A passagem de Jesus nesta terra foi extremamente rápida do ponto de
vista histórico, mas seus feitos e seus discursos, sermões, são um
traço contínuo de sua presença eternizada pelos movimentos
posteriores, sobretudo, pelo cristianismo. Certamente, sua pessoa
ainda vive conosco tão forte é o seu legado. Temos a impressão de
que os principais registros da vida de Jesus, os Evangelhos, dão
conta e são fontes seguras do propósito de sua morte tão
repentina.
É interessante notar que Jesus, em meio a uma série de declarações
feitas aos discípulos, expõe os motivos de sua vinda ao mundo.
Diferente de nós, Jesus não busca seu lugar ao sol, não está
atrás de um lugar no mundo, muito menos de se fixar em terra
estrangeira. Ele não dá sequer importância aos atrativos deste
mundo. Naquela época era muito comum desejar ser general de tropas
militares, ansiar a cargos políticos também, ascender ao trono,
lutar por algum lugar na elite da sociedade ou mesmo desejar ser um
soldado romano, ir à guerra e aprender a ser um conquistador.
Antes mesmo de algum desses ideais povoar a mente de Jesus, havia um
plano divino para ele, de modo que bem sabia a razão de estar aqui.
“(...) eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.”(Jo
10.10). Viver para ele implica encarar o cotidiano, os fatos deste
mundo a partir do que lhe fora revelado pelo Pai, o conhecimento de
sua vontade e o cumprimento das Escrituras. “E
eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou
para ti.”(Jo 17.11). Jesus desenvolve um modo de viver no mundo sem
pertencer a este mundo. Como a sua palavra é a verdade que se opõe
ao mundo, este acaba odiando aqueles que a seguem, assim muitos
começam a construir um outro mundo diferente deste porque já não
são do mundo, mas são agora do mesmo mundo de Jesus. Insiste:
“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do
mundo, assim como eu não sou do mundo.”(Jo 17.14).
Fato é que Jesus não é deste
mundo, o que acarreta para ele uma identidade estrangeira. Passa por
aqui como um estrangeiro em terra estranha, visto ser este mundo
inteiramente contraditório aos seus planos, ao reino de seu Pai,
realmente diferente do que ele diz ser a eternidade: “E a vida
eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”(Jo 17.3-4).
A sua mensagem, seus ensinamentos,
mostra um homem desprendido deste mundo, desapegado dos valores
terrenos, sem se embaraçar com nada. Sua oração, intimidade com o
Pai, seu jeito seguro e verdadeiro para afirmar a existência de um
outro reino eram convincentes. Com palavras cheias do que deve ser
este mundo, semelhante ao seu reino, Jesus usava de repreensão aos
que queriam menosprezar os pequeninos, habitantes de seu reino.
Utiliza-se de uma criança. A imagem da criança revela a todos um
outro mundo de que falava o mestre. Seu reino. Um mundo que ninguém
podia tomar. Seu povo. Um povo que ninguém podia maltratar e
herdeiro de um outro tipo de vida que não esta, a vida eterna.
Por isso, sua identidade
estrangeira, na medida em que não se deixa dominar, abre passagem
para os que buscam libertação, novo nascimento e salvação. Nem a
morte fora capaz de dominá-lo. Jesus atravessa os limites de sua
nacionalidade; os padrões de sua religiosidade, o judaísmo; desafia
as autoridades políticas de seu tempo; supera as realidades
temporais e espaciais para abrir uma relação definitiva de caminho
para o seu reino. Um reino que não é deste mundo: “O meu reino
não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os
meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o
meu reino não é daqui.”(Jo 18. 36).
Estrangeiro porque não tem onde
reclinar a cabeça, anuncia um reino eterno e fala de outras moradas,
além disso, durante o tempo que passou conosco, se opôs a este
mundo como se não fosse a sua casa, tampouco a nossa. “Na casa de
meu Pai há muitas moradas (...). Vou preparar-vos lugar.”(Jo 14.
2). A propósito do caminho para este lugar, assim responde a Tomé:
“Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão
por mim.”(Jo 14. 6).
Prof.
Jackislandy Meira de M. Silva, filósofo e teólogo
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