Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.
“Não há na Terra, de acordo com minha opinião, felicidade igual à de alcançar a liberdade perdida”. (Cervantes)
A liberdade, a partir das concepções modernas, associa-se a outras
virtudes como a justiça e a igualdade. Pela liberdade garante-se a
vontade individual, mas cada torna-se responsável por suas atitudes e
ações. Como ideia estruturadora das relações sociais, a liberdade move
os ideais democráticos. A liberdade humana é sempre um valor pelo qual
muitos resolvem pagam alto preço.
Descrever sobre os fenômenos depois que os mesmos aconteceram é sempre
mais fácil do que prevê-los, antecipando desfechos. Mas se é tão difícil
prever antecipadamente os desfechos, aprendamos com eles a partir de
seus substratos (aquilo que forma a essencialidade do ser, sobre o que
repousam seus atributos, o que serve de base a um fenômeno).
A queda das ditaduras nas nações árabes da África e do Oriente Médio
demonstra que o povo até suporta ditaduras, desde que as mesmas não usem
dos mesmos artifícios de opressão daqueles que foram destituídos por
estes que por ora estão no poder. O povo não suporta traição, o povo não
suporta que alguém se declare dono de tudo e de todos. O povo não
tolera privilégios inescrupulosos. Quando isto acontece, levanta a voz,
grita por liberdade e luta por possibilidades de vida menos tiranas,
mesmo não sabendo prever até quando usufruirá desta nova conquista. A
esperança de dias melhores, em todos os sentidos, é sempre o horizonte
de quem luta por liberdade.
Fica claro que houve quebra de confiança entre líderes e liderados
no momento em que os primeiros se julgaram acima de tudo e de todos.
Sintomaticamente, caíram por falta de legitimidade junto àqueles que
diziam liderar. Mais do que isto, demonstraram o quão foram incapazes de
ler a realidade, julgando que, a fim e a cabo, seus liderados iriam
defendê-los e quiçá, morrer por eles.
O desafio dos líderes sempre está na relação construída junto a seus
liderados, seja pela representação, seja pela condição de amálgama
(mediação). Como afirma Walter Lippmann, "líderes são os guardiões dos
ideais de uma nação, das crenças que ela cultiva, de suas esperanças
permanentes, da fé que faz uma nação de um mero agregado de indivíduos."
Por outro viés, escreve John Maxwell: “meu alvo não é formar seguidores
que resultem em uma multidão. Meu alvo é desenvolver líderes que se
transformem em um movimento”. Certo é que não há legitimidade de
liderança quando os anseios e necessidades do povo não são respeitados.
Certo também que os ventos de inspiração não sopram somente aos que se
consideram “iluminados”. A realidade, associada à capacidade de
resignação e organização do povo, produz efeitos capazes de construir
novos horizontes, novas utopias.
Nenhuma ditadura merece defesa. Todas as ditaduras tolhem a
liberdade. Liberdade não se reduz a “poder dizer”. Liberdade sempre é
“poder viver”: autenticamente, com dignidade, com segurança, com prazer,
na ausência de “sofrimentos provocados”, com soberania. Resta perguntar
se todos aqueles que pegaram em armas, morreram e pagaram o preço por
mais liberdade em seu país sabiam que estas ditaduras, agora em cheque,
já não interessam mais nem a seus países nem ao resto do mundo por conta
de novos posicionamentos de ordem política e econômica. O que farão
agora EUA e Europa: continuarão ditando regras e explorando os povos,
sem a escora das ditaduras patrocinadas? O fim das ditaduras significa
fim da opressão?
O desafio da liberdade é combater todas as formas de alienação. Onde
houver alienação, não há como nascer liberdade. Ainda há muito a
aprender, como ensina Eduardo Galeano: “somos o que fazemos, mas
principalmente o que fazemos para mudar o que somos”.
Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com/
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