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segunda-feira, 26 de maio de 2014

Novo livro de Kundera: A FESTA DA INSIGNIFICÂNCIA

O escritor Milan Kundera em foto de 2005 Foto: - / EFE
                             O escritor Milan Kundera em foto de 2005 - / EFE
MADRI - Com ironia, menos pesar do que o esperado por alguns e distante, mas atento, Milan Kundera (nascido em Brno, República Tcheca, em 1929) voltou ao panorama da literatura europeia. "La Fête de L’insignificance" ("A festa da insignificância") chegou às livrarias francesas pela editora Gallimard (ainda a ser publicado no Brasil) e já vendeu 100.000 exemplares na Itália. E longe de ser resolvido, o enigma do escritor esquivo e recluso, escondido e voluntariamente desligado de sua língua materna — escreve em francês desde "A Lentidão", lançado em 1994 —, revela-se um pouco mais agora.
“Leve como uma pluma de perdiz ou de anjo”, compara o "Le Monde", Kundera voa alto no romance que aparece agora, 14 anos depois de "A Ignorância". Por onde andou? O que estava fazendo? Afastar-se, ocultar-se, ler em francês, alemão e tcheco, as línguas que domina Aprofundar talvez os meandros kafkianos que tanto o apaixonam e reconhecer neles os sinais deste tempo difuso, indescritível.
Kundera tenta passar despercebido com sua vocação de autor invisível, apesar das polêmicas que lhe perseguiram, sobretudo em seu país de origem. Foi acusado de ter colaborado com o regime comunista. Ele se recusou a revisar suas traduções do francês ao tcheco — “por falta de tempo”, chegou a dizer; leia-se: por falta de vontade. Rompeu quase todos os vínculos que lhe uniam à República Tcheca. Isso, depois de ter esmiuçado brilhantemente uma terra central e sofrida, serena e humilhada pelos grandes flagelos do século XX.
O peso de um legado escuro em busca da luz — ou do absurdo — definiu sua obra desde "Risíveis amores" até "A brincadeira"; de "A vida está em outro lugar" até "A insustentável leveza do ser" — publicado em seu país em 2004, mas um clássico desde meados dos anos 1980. Também serviu de guia ao seu estilo cada vez mais enigmático e polissêmico em livros como "A imortalidade", "A lentidão" ou neste último lançamento.
Sua editora Beatriz de Moura, nascida no Rio de Janeiro, está traduzindo ao espanhol uma obra que o autor levava um tempo comentando com os mais íntimos. Começa com pinceladas eróticas e ares pós-modernos de "Morte em Veneza", entre a contemplação de um umbigo e a comparação do sagrado símbolo romântico dos seios femininos com a efigie da Virgem Maria.
De Moura, dedicada e árdua defensora de Kundera, revela alguns detalhes: “Estão presentes quase todos os temas preferidos do autor e levados à sua essência: a maternidade, a sexualidade, o poder com suas facetas — desde a crueldade e a arbitrariedade até o absurdo e a ternura —, a grosseria do falacioso...”.
Tudo isso, com uma pitada de humor. Foi o que mais surpreendeu a editora. Esse equilíbrio magistral se nota nas entrelinhas: “Fácil de ler, mas difícil de compreender”, garante. “No geral, Kundera mostra uma visão descontraída do mundo que não para de cair no ridículo e que termina em um festejo burlesco”.
Sobre essa profunda leveza concordam as resenhas francesas e italianas. “O grande retorno de Kundera”, atesta o "Le Figaro". “A última valsa…”, destaca o "Le Nouvel Observateur", prevendo que já não haverá outra igual. Como uma “pequena e encantadora comédia humana”, definiu o "La Repubblica", ao passo que o "Corriere della Sera" descrevia o livro como um “divertimento surreal e uma parábola felliniana na qual se mesclam personagens com elucubrações extravagantes”.
Mais Falstaff que Hamlet, Kundera apresenta-se novamente nesta etapa final de sua vida e de sua obra, com 85 anos completados neste mês. Imprevisível e muito livre, insólito e inesperado, no tempo que mediou desde seu último lançamento literário, o autor ingressou na coleção da Plêiade de Gallimard, algo como o olimpo da literatura francesa, onde se junta a Proust e Balzac. E também viveu mergulhado em uma polêmica: em 2008 uma revista tcheca lhe acusou de delatar, em 1950, um estudante à polícia comunista. O rapaz passou 22 anos na prisão.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

MOSTRA TUA FORÇA BRASIL


Vamos soltar o grito do peito
Deixar o coração no jeito
Que aí vem mais uma emoção

Vamos torcer e jogar todos juntos
Mostrar novamente pro mundo
Como se faz um campeão

Pois só a gente tem as cinco estrelas na alma verde amarela
E só a gente sabe emocionar cantando o hino a capela

Mostra tua força Brasil
E amarra o amor na chuteira
Que a garra da torcida inteira
Vai junto com você Brasil

Mostra tua força Brasil
E faz da nação sua bandeira
Que a paixão da massa inteira
Vai junto com você Brasil

Mostra tua força Brasil
E marra o amor na chuteira
Que a garra da torcida inteira
Vai junto com você Brasil

Todos os corações no mesmo lugar. Isso muda o jogo.


terça-feira, 20 de maio de 2014

ESPERANÇA DO MUNDO por Luiz Felipe Pondé

"Nunca confiei na felicidade", diz o personagem de Robert Duvall no filme "Tender Mercies" ("A Força do Carinho", título brasileiro bem infeliz para o filme), papel com o qual ganhou o Oscar de melhor ator em 1983. O filme narra a derrocada de um cantor de música country e sua sofrida redenção, graças ao amor e generosidade de uma mulher. 
No filme, salta aos olhos o deserto do Texas, a solidão de todas as planícies e a total ausência de qualquer metafísica barata, coisa comum hoje no cinema, seja ela moral, psicológica, ambiental ou política. O homem e a mulher são seres abandonados no mundo e devem cuidar de suas vidas porque ninguém mais o fará. 
Aliás, por falar em metafísica, a pior é a política. Mas da política trato apenas por obrigação profissional, porque, como diz Albert Camus nos seus "Cadernos" (o primeiro tem como título "Esperança do Mundo"), ouvindo aqueles que se dedicam à política, podemos apenas concluir que as pessoas se importam pouco com esta parte das suas vidas, uma vez que todos na política mentem.
Acrescentaria, além dos políticos profissionais, os intelectuais que a ela se voltam como redenção do mundo e forma de obrigar os outros a viverem de acordo com os delírios que alimentam em seus gabinetes. 
Enfim, no fundo, a política pouco me interessa. Trato-a assim como quem deve cuidar de uma ferida --do contrário ela se infectará. 
Noutro filme, "Alabama Monroe" (2012), do diretor Felix van Groeningen, a personagem feminina Elise, interpretada por Veerle Baetens, diz algo semelhante ao final: "Sempre soube que tudo aquilo não podia durar, porque a felicidade sempre acaba". Referia-se ela ao amor por seu marido Didier e pela pequena filha morta. 
Sinto-me em casa quando ouço pessoas dizerem coisas assim. Pois se existem apenas "três ou quatro atitudes diante do mundo", como dizia em seu "Breviário da Decomposição" Emil Cioran, filósofo romeno indispensável para quem suspeita que os trágicos gregos são quem tem razão na filosofia, esta é a minha. E seguramente a dele. E também a de Camus. 
Na mesma obra, Cioran faz um diagnóstico preciso: "A obsessão pelos remédios marca o fim de uma civilização, e, pela salvação, o fim da filosofia". Por isso ele afirma que desistiu da filosofia quando viu que em Kant não havia nenhuma tristeza. Os filósofos, diz Cioran, quase todos acabam bem, prova máxima contra a honestidade deles. 
Sempre sinto um cheiro de mesquinharia quando ouço alguém falar de uma nova dieta. A vida, talvez seja esta sua maior tragédia, se apequena quando não é de algum modo dada em sacrifício. Talvez seja isso que o cristianismo queira dizer quando afirma que só quando se perde a vida se ganha a vida. E não há saída: somos a civilização da mesquinharia. Até Cristo deve ser saudável. 
Sei que Camus considerava o suicídio o único problema filosófico ("O Mito de Sísifo"). E sei também que ele considerava um milagre um momento em que não tivesse que falar de si mesmo (caderno "Esperança do Mundo"). Detalhe: Camus usa expressões como "milagre", conhecia bem teólogos como Blaise Pascal e conceitos como o de "graça", citando-os com precisão. 
Mas eu suspeito que um dos maiores problemas da filosofia, e certamente um dos maiores milagres na vida, para quem tem um temperamento que desconfia da felicidade (trágico), é justamente o problema que Camus diz "ser um bom título": a esperança do mundo. 
Como ter esperança no mundo sem ter que abdicar da capacidade de vê-lo tal como é? Por isso, sinto um halo de graça quando vejo a esperança visitar o mundo. Afora as ilusões, só a generosidade é capaz de acolher a esperança. 
Talvez o próprio Camus dê uma pista neste "Caderno", sendo ele um filósofo, e sabendo, como nós todos, que nós filósofos sofremos da vaidade intelectual como pecado capital. Camus diz que "a obsessão em ter razão é a marca suprema de uma inteligência grosseira". Portanto, talvez, a humildade, virtude capital para Camus, seja a esperança para a filosofia. Ou, como dizia Santo Agostinho, o que falta ao filósofo é chorar.

Autoria de Luiz Felipe Pondé, filósofo e colunista da Folha de SP

Fonte: http://zelmar.blogspot.com.br/2014/05/esperanca-do-mundo.html

A CONTRADIÇÃO PRINCIPAL DA NOVA ORDEM MUNDIAL

Conhecer uma sociedade não é apenas saber as suas regras explícitas. É também compreender como funciona a sua aplicação: saber quando usar e quando violar as normas, saber quando recusar uma escolha oferecida e saber quando fingir que se está a fazendo algo por livre escolha quando se trata efetivamente de uma obrigação. Considere o paradoxo, por exemplo, das “ofertas feitas para serem recusadas”. Quando sou convidado a um restaurante por um tio rico, ambos sabemos que ele cuidará da conta, mas devo mesmo assim insistir em dividi-la – imagine a minha surpresa se o meu tio simplesmente dissesse: “Ok, então, pode pagar!”
Houve um problema semelhante durante os caóticos anos pós-soviéticos do governo Yeltsin na Rússia. Embora as regras legais fossem sabidas – e eram em larga medida as mesmas que vigoravam sob a União Soviética –, desintegrou-se a complexa rede de regras implícitas, tacitamente aceites, que sustentava o edifício social. Na União Soviética, se você quisesse, digamos, um tratamento hospitalar melhor, ou um apartamento novo, se você tivesse uma reclamação sobre as autoridades, havia sido convocado ao tribunal ou queria que o seu filho fosse aceite numa escola concorrida, você sabia as regras implícitas. Sabia com quem falar ou a mão que untar, o que se podia e não se podia fazer.
Depois do colapso do poder soviético, um dos mais frustrantes aspetos do cotidiano para as pessoas comuns era que esse espaço de regras não ditas se tornou seriamente obscuro. As pessoas simplesmente não sabiam como reagir diante de regulações legais explícitas, o que podia ser ignorado, onde o suborno funcionava. (Uma das funções do crime organizado era justamente a de fornecer uma espécie de legalidade ersatz, substituta. Se você possuísse um pequeno negócio e um cliente lhe devesse dinheiro, você ia ao seu protetor da máfia para lidar com o problema, já que o sistema legal do Estado era ineficiente.)
A estabilização da sociedade sob o regime Putin deve-se em larga medida à transparência que se estabeleceu dessas regras não ditas. Agora as pessoas compreendem novamente, de modo geral, o complexo emaranhado de interações sociais.
Não chegamos ainda a este estágio no plano da política internacional. Na década de 1990, um pacto silencioso regulava a relação entre a Rússia e as grandes potências ocidentais. Os Estados ocidentais tratavam a Rússia como uma grande potência na condição de que a Rússia não agisse como uma. Mas e se o sujeito para quem a “oferta feita para ser recusada” realmente a aceitar? E se a Rússia realmente começar a agir como uma grande potência? Uma situação como essa é propriamente catastrófica, ameaçando todo o tecido de relações existente – como ocorreu há cinco anos atrás na Geórgia. Cansada de apenas ser tratada como uma superpotência, a Rússia de facto agiu como uma.
Como chegamos a isto? O “século americano” acabou, e entramos num período em que múltiplos pólos do capitalismo global se vêm formando. Nos EUA, na Europa, na China e talvez na América Latina também, sistemas capitalistas desenvolveram colorações específicas: os EUA representam o capitalismo neoliberal, a Europa o que resta do estado de bem estar social (Welfare State), a China o capitalismo autoritário e a América Latina o capitalismo populista. Com o fracasso da tentativa norte-americana de se impor como a única superpotência mundial – o polícia universal –, há agora a necessidade de estabelecer as regras de interação entre esses pólos locais no que diz respeito aos seus interesses conflituantes.
É por isso que os nossos tempos são potencialmente mais perigosos do que podem parecer. Durante a Guerra Fria, as regras de comportamento internacional eram claras, garantidas pela loucura da Destruição Mútua Assegurada (MAD) das superpotências. Quando a União Soviética violou essas regras não ditas ao invadir o Afeganistão, ela pagou caro por essa infração. A guerra do Afeganistão foi o começo do seu fim. Hoje, as novas e velhas superpotências estão a testar-se, tentando impor a sua própria versão de regras globais, experimentando com elas através de proxies (guerras por procuração) – que são, é claro, outras pequenas nações e estados.
Karl Popper certa vez elogiou o teste científico das hipóteses, dizendo que, dessa forma, permitimos que as nossas hipóteses morram em vez de nós. Nos testes de hoje, as pequenas nações se ferem no lugar das maiores – primeiro a Geórgia, agora a Ucrânia. Embora os argumentos oficiais sejam altamente morais, girando em torno de direitos humanos e liberdades, a natureza do jogo é clara. Os eventos na Ucrânia parecem algo como “a crise na Geórgia, parte II” – a próxima etapa de uma luta geopolítica por controle num mundo multipolar, não regulado.
Chegou definitivamente a hora de ensinar algumas maneiras às superpotências, velhas e novas. Mas quem vai fazer isso? Obviamente, apenas uma entidade transnacional poderá dar conta de uma tarefa como essa. Há mais de duzentos anos, Immanuel Kant viu a necessidade de uma ordem legal transnacional fundada na emergência da sociedade global. No seu projeto para a paz perpétua [Zum ewigen Frieden. Ein philosophischer Entwurf, 1795], ele escreveu:
“Avançou-se tanto no estabelecimento de uma comunidade (mais ou menos estreita) entre os povos terrestres que, como resultado, a violação do direito num ponto da terra repercute-se em todos os demais, a ideia de um Direito Cosmopolita não é uma representação fantástica nem extravagante.”
Isso, no entanto, traz-nos ao que talvez seja a “contradição principal” da nova ordem mundial (se pudermos usar esse velho termo maoista): a impossibilidade de criar uma ordem política global que corresponda à economia capitalista global. E se, por razões estruturais, e não apenas devido a limitações empíricas, não puder haver uma democracia ou um governo representativo mundial? E se a economia global de mercado não puder ser diretamente organizada como uma democracia liberal global com eleições mundiais?
Hoje, na nossa era da globalização, estamos a pagar o preço por essa “contradição principal”. Na política, fixações da era passada, e identidades particulares, étnicas, religiosas e culturais retornaram com força total. O nosso dilema hoje é definido por essa tensão: a livre circulação global de mercadorias é acompanhada por crescentes separações na esfera social. Desde a queda do Muro de Berlim e a ascensão do mercado global, novos muros começaram a emergir por toda a parte, separando os povos e as suas culturas. Talvez a própria sobrevivência da humanidade dependa da resolução dessa tensão.
Artigo de Slavoj Žižek, publicado em The Guardian, tradução de Artur Renzo, para o Blog da Boitempo.

Sobre o/a autor(a)

Filósofo e psicanalista esloveno. Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Ljubljana.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

REAÇÕES DE UMA COPA



O evento Copa do Mundo no Brasil está nos elevando à condição de sujeitos políticos, incapazes de deixarmos passar batida qualquer informação que envolva gastos públicos com estádios da copa. Nunca fomos tão fiscalizadores dos gastos públicos como agora. Até parece que a população, por conta própria, abriu uma CPI para investigar as obras superfaturadas, não só de construção dos estádios, mas principalmente de infraestrutura das sedes, que se multiplicam assustadoramente às vésperas da copa, quando se acendem as luzes do “grand” espetáculo e se apagam aquelas da indignação.
Essa saudável reação política da população com a copa não é inédita. Tivemos outras copas que também nos fizeram despertar do sono político. O brasileiro é como um jogador em campo; de repente sofre um apagão. Aí acontece um evento fortíssimo que o tira do lugar-comum, daquela sonolência absurda, e o põe numa situação de alerta total.
A reação é legítima, mas não é única. Na copa de 1970, quando fomos tricampeões mundiais de futebol, o cenário político não era dos mais agradáveis. Amargávamos uma ditadura militar sob muita tortura e repressão aos direitos políticos. A população não gozava de liberdade de expressão e era impedida de se opor ao governo Médici, que conduzia o país de forma autoritária por ser considerado um militar de “linha dura”, responsável pela tortura e morte de muitos civis. Mesmo assim, a sociedade brasileira não abriu mão de torcer, sofrer e, no final, comemorar a estupenda vitória da seleção em cima da Itália por 4 a 1. Foi um momento em que o povo, em plena crise política, exultou de alegria.
Inegavelmente, um evento copa, sobretudo quando ocorrido na sua própria casa, guarda um paradoxo sem precedentes. Por um lado, é um momento oportuno para os sanguessugas políticos e donos de empreiteiras aproveitarem os altos investimentos do governo com obras da copa para agenciar iniciativas de ordem político-eleitoral, visto estarmos em ano de eleições no Brasil. Por outro, é tempo de ficarmos ainda mais de olho no que estão fazendo com o dinheiro público e percebermos como os interesses são mesquinhos e cada vez menos coletivos. Daí, durante a copa, não pararmos de fazer a crítica.
O governo aproveita a copa para fazer propaganda eleitoral, responder a oposição na direção de que o país está avançando na economia, oferecendo empregos e melhorando a qualidade de vida, porém o povo também não fica atrás e aproveita para reclamar dos serviços públicos, cobrar de seus governantes o que muito ainda está por fazer na educação, na saúde, segurança e combate à corrupção com reformas políticas.
Infelizmente não correspondemos aos efeitos de um evento copa. Podíamos ter investido muito mais em mobilidade urbana, metrôs, outros meios de transportes, ampliação de aeroportos, modernização das cidades, turismo, etc. Tudo o que a imprensa vem falando faz sentido, embora seja agenciada também por interesses de ordem política e econômica. Por trás dela há muita gente influente.
Parece que só o futebol produz esse duplo movimento: reações contra e a favor da copa. Os que dizem não à copa são movidos por um sentimento politicamente correto de que é preciso não baixar a guarda e gritar as injustiças mesmo durante os jogos, certamente não se envolverão com os jogos, não torcerão. Os que são a favor, e esta é uma maioria afirmativa, irão procurar vivê-la de qualquer modo, com ou sem indignação, com ou sem senso do ridículo. Além disso, o que se espera de um país democrático é que as reações sejam pacíficas e ordeiras.
Para experimentar, de fato, a Copa do Mundo aqui no Brasil com todas as suas demandas é interessante considerar o que disse o escritor colombiano, Gabriel Garcia Márquez, num texto seu chamado “El juramento”, onde descreve a sensação de ter virado torcedor de um time de futebol: “O primeiro instante de lucidez em que me dei conta de que tinha virado um torcedor intempestivo foi quando percebi que durante toda a minha vida eu tive algo do qual sempre me orgulhei e que agora me incomodava: o senso do ridículo”.
Vale a dica: envolver-se com a copa implica desvencilhar-se do senso do ridículo.
Boa copa a todos.

Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Bel. e Licenciado em Filosofia, Bel. em Teologia, Esp. em Metafísica e em Estudos Clássicos


      



terça-feira, 13 de maio de 2014

Sobre a amizade de Michel de Montaigne

... o que nós chamamos ordinariamente amigos e amizades, não são acomodações e familiaridades nascidas de uma ocasião qualquer ou da comodidade com a qual se entretêm nossas almas. Na amizade de que falo, as almas misturam-se e confundem-se uma na outra, de tão universal mistura, que apagam e já não encontram a costura que as juntou. Se me pressionassem para dizer porque o amaria, sinto que isso não se pode exprimir senão respondendo: "Porque estou nele; porque ele está em mim."

Há, por detrás do meu discurso e do que particularmente posso dizer, não sei que força inexplicável e fatal, mediatriz desta união. Não procuramos senão antes de nós, ser vós, e pelas relações que temos um ao outro, que faz na nossa afecção mais força do que a razão das relações, creio que por causa de qualquer ordem divina; nós abraçamo-nos pelos nomes. E no nosso primeiro encontro, que aconteceu, por acaso numa grande festa na comunidade da vila, encontramo-nos tão próximos, tão reconhecíveis, tão comprometidos entre nós, que nada nos é doravante, tão próximo um ao outro.




Montaigne, Essais, Livre I, Garnier-Flammarion, Paris, 1969

Tradução do Francês antigo de Helena Serrão

Fonte:  http://filosofialogos.blogspot.com.br/search/label/Montaigne

Uma copa irresponsável

Estarrecedores números mostram a incapacidade do Brasil em assumir os compromissos da Copa a apenas 30 dias para o seu evento. Vejam só:


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/infograficos/2014/05/82509-legado-incompleto.shtm