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segunda-feira, 31 de março de 2014
A eterna transição
A reflexão a respeito dos 50 anos do golpe
de 64 começou. E estão demonstrados com clareza os malefícios da
transição à brasileira. Sua maior característica é o fato de ela nunca
acabar. Vende-se a falsa versão de que o Brasil seria um país de
reconciliação fácil, capaz de mobilizar todos os setores da sociedade
para uma superação de traumas passados. Na verdade, somos uma nação onde
os traumas nunca são superados, pois eles sequer são nomeados. Dessa
forma, somos obrigados a conviver com fantasmas que parecem sair do
nada, mas são, na verdade, a expressão de visões que nunca morreram de
fato.
Há pouco, o jornal O Estado de S. Paulo decidiu publicar um artigo do general Rômulo Bini Pereira a respeito da grandeza do que esse senhor chama de “Revolução de 64”. Não consigo imaginar nenhuma nação do mundo na qual cidadãos sofreriam o insulto de ver um militar criticar governos democráticos e elogiar ditaduras, sem passar por nada minimamente parecido a um mea culpa a respeito de seus crimes e do fato de a ditadura ter instalado no Brasil um Estado ilegal comandado por bandidos. Na Argentina, no Chile, no Uruguai ou Espanha, seria inimaginável. Um senhor como este, mesmo na reserva, seria destituído de suas patentes e processado por apologia do crime contra o Estado democrático. O Exército emitiria nota para deixar claro seu repúdio a tal opinião. Mas estamos no Brasil e aqui elogiar nosso período ditatorial, com seus assassinos e torturadores, é tratado como um “direito de opinião”.
Há pouco, o jornal O Estado de S. Paulo decidiu publicar um artigo do general Rômulo Bini Pereira a respeito da grandeza do que esse senhor chama de “Revolução de 64”. Não consigo imaginar nenhuma nação do mundo na qual cidadãos sofreriam o insulto de ver um militar criticar governos democráticos e elogiar ditaduras, sem passar por nada minimamente parecido a um mea culpa a respeito de seus crimes e do fato de a ditadura ter instalado no Brasil um Estado ilegal comandado por bandidos. Na Argentina, no Chile, no Uruguai ou Espanha, seria inimaginável. Um senhor como este, mesmo na reserva, seria destituído de suas patentes e processado por apologia do crime contra o Estado democrático. O Exército emitiria nota para deixar claro seu repúdio a tal opinião. Mas estamos no Brasil e aqui elogiar nosso período ditatorial, com seus assassinos e torturadores, é tratado como um “direito de opinião”.
É de se admirar ainda que uma empresa de comunicação
que participou ativamente do golpe e que o defendeu até a última hora,
principalmente por meio de editoriais nos quais criticava movimentos
democráticos como as Diretas Já, não tenha sensibilidade para evitar
esse constrangimento.
Ainda no quesito “o passado nunca passa”, há pouco os correntistas do Banco Itaú receberam uma agenda na qual o dia 31 de março estava marcado como “aniversário da revolução de 64”. Não custa lembrar: Olavo Setubal, fundador da instituição financeira, por suas boas relações com o regime, foi prefeito biônico de São Paulo. Se o governo brasileiro tivesse exposto com clareza os vínculos do empresariado nacional com a ditadura, vínculos que chegaram ao incrível financiamento de casas de tortura, certamente bancos, empresas e construtoras teriam feito pedidos públicos de desculpas e aplicado políticas de controle para impedir que afrontas como essa ocorressem.
Tudo isso demonstra quão falsa é a história de a ditadura brasileira ser um assunto encerrado. O que poderíamos esperar de um país no qual nenhum torturador, absolutamente nenhum, foi preso ou simplesmente julgado? O Brasil não pode continuar a farsa da reconciliação nacional sem que as Forças Armadas mostrem minimamente terem entendido o que fizeram e ofereçam publicamente um pedido de perdão à população brasileira por terem destruído nossa democracia. Enquanto isso não ocorrer, elas serão vistas por vários setores da sociedade brasileira como um corpo estranho, uma corporação pronta a desordenar, mais uma vez, a nação por meio da força e do arbítrio.
Ainda no quesito “o passado nunca passa”, há pouco os correntistas do Banco Itaú receberam uma agenda na qual o dia 31 de março estava marcado como “aniversário da revolução de 64”. Não custa lembrar: Olavo Setubal, fundador da instituição financeira, por suas boas relações com o regime, foi prefeito biônico de São Paulo. Se o governo brasileiro tivesse exposto com clareza os vínculos do empresariado nacional com a ditadura, vínculos que chegaram ao incrível financiamento de casas de tortura, certamente bancos, empresas e construtoras teriam feito pedidos públicos de desculpas e aplicado políticas de controle para impedir que afrontas como essa ocorressem.
Tudo isso demonstra quão falsa é a história de a ditadura brasileira ser um assunto encerrado. O que poderíamos esperar de um país no qual nenhum torturador, absolutamente nenhum, foi preso ou simplesmente julgado? O Brasil não pode continuar a farsa da reconciliação nacional sem que as Forças Armadas mostrem minimamente terem entendido o que fizeram e ofereçam publicamente um pedido de perdão à população brasileira por terem destruído nossa democracia. Enquanto isso não ocorrer, elas serão vistas por vários setores da sociedade brasileira como um corpo estranho, uma corporação pronta a desordenar, mais uma vez, a nação por meio da força e do arbítrio.
A mesma exigência vale, e com urgência parecida,
para a classe empresarial brasileira. Basta de o empresariado nacional
fingir não ter sido o elemento propulsor da ditadura, com relações de
simbiose com o governo. De não ter herdado e manter de pé até os dias
atuais práticas de corrupção do poder público. E de não estimular
preconceitos que vez por outra explodem de maneira aparentemente
irracional. O que se espera deste momento de reflexão a respeito dos 50
anos do golpe é, ao menos, o fim dessa prática medonha de nunca colocar
claramente como objetos de repúdio público aqueles que destruíram não
apenas 20 anos da história brasileira, mas contribuíram para um presente
ainda assombrado pelos piores fantasmas. O Brasil merece Forças Armadas
defensoras da democracia, não um clube dedicado a abrigar os defensores
de estupradores, torturadores, assassinos e ocultadores de cadáveres.
Por Vladimir Safatle in http://www.cartacapital.com.br/politica/a-eterna-transicao-7263.html
Por Vladimir Safatle in http://www.cartacapital.com.br/politica/a-eterna-transicao-7263.html
sábado, 29 de março de 2014
Meu amigo Nietzsche
Um curta-metragem
simplesmente espetacular, com a direção de Fáuston da Silva. A história
de um garoto que conhece o poder transformador dos livros. Vale a pena
conferir. Para assistir basta dar o play. Aqui você tem acesso somente ao trailler deste excelente curta, mas no link de filosofia na escola há como baixar integralmente este material indispensável para a interação dos estudantes com a leitura e com o pensamento do filósofo Nietzsche. Portanto, professores, fica a dica.
Segue o Trailler:
Fonte: http://www.filosofianaescola.com.br/2013/12/meu-amigo-nietzsche-curta-metragem.html
quinta-feira, 27 de março de 2014
A mancha da corrupção
Os governos, ditos democráticos, precisam preservar e fortalecer nossas instituições, torná-las cada vez mais imparciais, neutralizando as suspeitas de corrupção.
domingo, 23 de março de 2014
Provocações filosóficas: Músicas, cinema e literaturas - ProEmi 2014
PROEMI 2014 - PROVOCAÇÕES
FILOSÓFICAS: MÚSICAS, CINEMA E LITERATURAS
PROPOSTA DA DISCIPLINA DE
FILOSOFIA PARA O CONTRATURNO
As
oficinas do Programa do Ensino Médio Inovador 2014, na Escola Estadual Teônia
Amaral de Florânia/RN, estarão começando nesta segunda-feira, dia 24/03 a
partir das 19h. Estudos e trabalhos das oficinas “Provocações filosóficas”
acontecerão às segundas e quintas-feiras de cada semana. Os estudantes
interessados deverão procurar o professor responsável pela oficina ou a direção
da Escola para fazerem suas inscrições.
EMENTA: Sendo a Filosofia uma atividade
da razão que nos conduz a pensar por conta própria e uma experiência
eminentemente existencial que nos faz dialogar com o mundo e suas exigências,
pretendemos com as “provocações filosóficas” abrir caminhos, trilhas, de acesso
às questões mais vitais que o homem fora capaz de fazer. Temas como a
liberdade, a angústia, a morte, o amor, a justiça, o poder, a vida, o outro, o
trabalho, a política, Deus, o desejo, enfim, fluem possivelmente da audição de
uma simples música popular ou erudita; da projeção de um filme brasileiro ou
estrangeiro; e, sobretudo, da leitura de obras de autores nacionais e também
estrangeiros. Partir das produções musicais, do cinema e das literaturas mais
diversas é a ousadia nossa para provocar em nós as manifestações mais
estranhas, comoventes e curiosas, próprias do filosofar.
OBJETIVOS: Instigar o hábito de provocar
discussões a partir da audição de uma música que lhe dá prazer. Estimular o
estudante a compreender suas músicas, seus filmes e seus livros (literatura de
seu interesse). Possibilitar a construção cultural de seus valores através da
música, dos filmes e dos livros. Fortalecer a formação da identidade
(subjetividade) por meio de filmes educativos com abordagens filosóficas.
Procurar apresentar aos estudantes uma filosofia bem popular presente nos
estilos musicais. Promover uma forma de interpretação crítica da filmografia
brasileira e estrangeira. Pontuar obras da literatura brasileira e estrangeira
que tratem da temática filosófica. Provocar a leitura de textos variados de
modo filosófico. Aprender a não só entreter-se com a música, o cinema e suas
leituras, mas a tirar destes uma mensagem de reflexão para a vida.
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS:
1ª Etapa: março, abril e maio –
Estilos musicais. Principais nomes da música popular brasileira. Alguns músicos
estrangeiros de forte influência em nossa cultura. Música de sentido filosófico
que trabalha com conteúdos políticos, éticos e sociais.
2ª Etapa: julho, agosto e
setembro – Principais cineastas brasileiros e estrangeiros e seus estilos.
Filmes históricos que marcaram nossa cultura pela relevância e abordagem
temática. Documentários interessantes para nossa reflexão. Curtas que exploram
os problemas e conflitos humanos.
3ª Etapa: outubro, novembro e
dezembro - Destacar algumas obras literárias, tipo romances, crônicas, poesias,
contos que dialogam com o universo temático da Filosofia clássica e
contemporânea. Textos de escritores como Clarice Lispector, Machado de Assis,
Manoel Bandeira, Nelson Rodrigues, João Guimarães Rosa, Platão, Dostoievski, Shakespeare
e muitos outros serão trabalhados e, de alguma forma, estudados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ABBAGNANO,
Nicola. Dicionário de Filosofia. São
Paulo: Martins Fontes, 2000.
ARANHA,
Maria Lúcia de Arruda, MARIA Helena Pires Martins. Filosofando: Introdução à
Filosofia. – 4 ed. – São Paulo: Moderna, 2009.
CHAUI,
Marilena. Filosofia - série Brasil. São Paulo: Ática, 2005.
CHAUI,
Marilena. Convite à filosofia. 12ª. ed. São Paulo: Ática, 2002.
GAARDER,
Jostein. O mundo de Sofia. Romance da história da filosofia. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
GALLO,
Sílvio. Ética e cidadania. Caminhos
da Filosofia. 20ª ed. São Paulo: Papirus, 2011.
LALANDE,
André. Vocabulário técnico e crítico de filosofia. S. Paulo: Martins
Fontes. 1999.
LISPECTOR,
Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
PLATÃO. A
República. Col. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
PONDÉ, Luiz
Felipe. Guia Politicamente incorreto da Filosofia. São Paulo: Leya, 2012.
RODRIGUES,
Nelson. O óbvio ululante: primeiras
confissões crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
ROSA, João
Guimarães. Grande Sertão: veredas.
19ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
SHAKESPEARE,
W. Tragédias. São Paulo: Nova
Cultural, 2003.
VV.AA. Filosofia.
Ensino Médio. 2ª ed. Curitiba: SEED-PR, 2006.
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Bel. e Licenciado em Filosofia, Esp. em Metafísica,
Esp. em Estudos Clássicos.
sábado, 22 de março de 2014
M. Blanchot: Uma voz vinda de outro lugar...
(imagem da wikipédia: Dafne, a Sibila délfica, afresco de Michelangelo)
"A linguagem em que fala a origem é essencialmente profética. Isso não significa que dite os acontecimentos futuros; quer dizer que não se apoia em algo que já existe, nem numa verdade em curso nem na única linguagem já falada ou verificada. Ela anuncia, porque começa. Indica o futuro, porque ainda não fala: linguagem do futuro, pelo fato de ser ela mesma uma espécie de linguagem futura, que sempre se antecipa, não tendo sentido e legitimidade senão adiante de si mesma - ou seja, fundamentalmente injustificada. E tal é a sabedoria desarrazoada da Sibila, que se faz ouvir durante mil anos, porque jamais é ouvida agora, e essa linguagem que abre a duração, que dilacera e que começa, sem sorriso, nem adorno, nem maquiagem, nudez da palavra primeira: 'A Sibila, que, com a boca espumando, pronuncia palavra sem atrativo, sem adorno nem maquiagem, faz retinir seus oráculos durante mil anos, pois é o deus que a inspira'"
(BANCHOT, Maurice. Uma voz vinda de outro lugar. Trad. de Adriana Lisboa. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. p. 50-60).
A SIBILA
«Nas praças, nos templos e olivais
um grito de louvor à Terra, dançai!
Vim sem o esplendor da aurora, mendiga,
não como as musas de outrora, dadivosas Diotimas,
vim mendigar o que há muito vos ofertei, Poetas:
sopro-vos à garganta dilatada, vossos olhos ceguei
para que o fundo olhar se liberte. Sibila em agonia,
há tanto silenciada, falarei por vossas bocas,
em vossos versos arquejará minha voz embriagada, rouca -
sustos e soluços, gritos, silvos, neblinas de esgares,
mares de canto e pranto. No tempo além do tempo
meus lábios murmuram por ti e perto dos templos derruidos,
a respiração do velho Mar, seus haustos e gemidos.
Mostra-me o silêncio o lacre escarlate, verbo indigente
dos mitos que sempre me uniram às setas de Apolo.
Há tanto minha palavra foi calada, os deuses recuavam...
Mas os poetas mantiveram-me viva. O mais ínfimo
deu-me de beber e em sua hídria refresquei meu rosto.
Sensíveis a meu sopro, os maiores coroaram-me de folhas verdes.
O nascimento do Poema é o silvo que Apolo harmoniza e Orfeu faz cantar.
Rompendo as cisternas escuras eu vim, raiz coleante
por entre as pedras e a secura. Dilacerada, arquejante,
acolhe-me Apolo em seus braços de névoa.
Gemidos rasgam mil caminhos na gruta: Ai, ai, oh...
A Sibila arrasta-se no pó, soluça, seus lábios deliram,
traça no ar os gestos incertos dos agonizantes, colhe flores
na neblina. Ai, ai, oh... Foram-se os deuses da Grécia,
só espelhos reflectem espelhos, o eterno assim se dá e esconde.
Onde Afrodite, a de róseos tornozelos, ungida de óleo incorruptível,
com seus perfumes, colares e pulseiras cintilantes?
Onde Ártemis, a de doçura selvagem? Foram-se as ninfas
e hamadríades! Nunca mais a vida estuante dos bosques,
suas flores e clareiras, onde Zeus e Hera adormeciam ao calor do dia.
Ai, ai, neblina, o que enlaçarão agora nossos braços?
Não mais que névoa e vento. Apolo, assim te afastas, e me deixas presa
à teia indecifrável destes sons selvagens? Aaa Oooo...
Em teu ombro dourado me apoiava, inventando poemas que ditavas
a meu secreto entendimento. Infeliz de mim! Agora
só posso tocar névoa e memória. Dissiparam-se Mundo e Palavra.
A Sibila chorou.
Nesse momento as coisas cessam, silenciosas,
atemorizadas. Os ventos param de soprar,
nas árvores as folhas não se movem.
Os rios adormecem e o gigantesco Mar
é liso e sem ondas. Paira sobre tudo um
SANTO SACRO SILÊNCIO
Perde-se na neblina a medida do Tempo,
tudo se abisma no silêncio, à espera
do alto Deus, meta dos séculos.
A Sibila abre os grandes olhos
e vê o Deus que nasce.
A Mãe, junto ao Menino, parece uma vinha
e enquanto a Lua surge, clara, ela adora
o Filho em seus braços. De ouro vivo é a Criança
e em resplendores toda a gruta se ilumina.
Luz nascida como o orvalho descendo do Céu à Terra
e em torno, suavíssimo aroma.
Anjos perpassam, alígeras borboletas
e cantam: Amém.
A Sibila sorri.
Um cântico novo brota em seus lábios, mas não é seu,
o infinito o modulou:
O aroma de teus perfumes é delicado
e teu nome, óleo que se derrama.
Serás novo júbilo e alegria...
Não repares em minha tez morena, que o sol queimou.
Irados, meus irmãos fizeram-me guardar as vinhas,
eu, esquecida da Vinha!
Ouço a voz do meu Amado batendo à porta
Lentos são meus pés e ao abrir a porta
o Amado já se foi. Corre minha alma
e o busca por toda a parte. Não respondes, Amor,
ao meu chamado?
Eu vos suplico, filhas de Jerusalém,
se o encontrardes
dizei-lhe que estou doente de amor.
O que tem ele - elas perguntam -
o que tem o teu Amado mais do que os outros
para que assim o busques, quase morta?
Meu Amado é róseo e brilhante,
meu Amado vermelho. Sua cabeça é de ouro puro,
seus cachos, negro-azulados.
Seus olhos são duas rolas
perto de um lento riacho.
Destila mirra
o lírio de seus lábios.
Sei que habita um jardim,
companheiros ouvem sua voz...
Oh, faze que eu também te escute!
Quem é essa que vem do deserto
como um cântaro apoiado a um peito amoroso?
Ele é um selo sobre seu coração,
sobre seu braço moreno,
pois o Amor é forte como a Morte,
seus centelhas são de fogo:
uma chama divina!
Dissipa-se na névoa um rosto efêmero,
mas a face do Amado permanece.»
Dora Ferreira da Silva, Poesia Reunida
um grito de louvor à Terra, dançai!
Vim sem o esplendor da aurora, mendiga,
não como as musas de outrora, dadivosas Diotimas,
vim mendigar o que há muito vos ofertei, Poetas:
sopro-vos à garganta dilatada, vossos olhos ceguei
para que o fundo olhar se liberte. Sibila em agonia,
há tanto silenciada, falarei por vossas bocas,
em vossos versos arquejará minha voz embriagada, rouca -
sustos e soluços, gritos, silvos, neblinas de esgares,
mares de canto e pranto. No tempo além do tempo
meus lábios murmuram por ti e perto dos templos derruidos,
a respiração do velho Mar, seus haustos e gemidos.
Mostra-me o silêncio o lacre escarlate, verbo indigente
dos mitos que sempre me uniram às setas de Apolo.
Há tanto minha palavra foi calada, os deuses recuavam...
Mas os poetas mantiveram-me viva. O mais ínfimo
deu-me de beber e em sua hídria refresquei meu rosto.
Sensíveis a meu sopro, os maiores coroaram-me de folhas verdes.
O nascimento do Poema é o silvo que Apolo harmoniza e Orfeu faz cantar.
Rompendo as cisternas escuras eu vim, raiz coleante
por entre as pedras e a secura. Dilacerada, arquejante,
acolhe-me Apolo em seus braços de névoa.
Gemidos rasgam mil caminhos na gruta: Ai, ai, oh...
A Sibila arrasta-se no pó, soluça, seus lábios deliram,
traça no ar os gestos incertos dos agonizantes, colhe flores
na neblina. Ai, ai, oh... Foram-se os deuses da Grécia,
só espelhos reflectem espelhos, o eterno assim se dá e esconde.
Onde Afrodite, a de róseos tornozelos, ungida de óleo incorruptível,
com seus perfumes, colares e pulseiras cintilantes?
Onde Ártemis, a de doçura selvagem? Foram-se as ninfas
e hamadríades! Nunca mais a vida estuante dos bosques,
suas flores e clareiras, onde Zeus e Hera adormeciam ao calor do dia.
Ai, ai, neblina, o que enlaçarão agora nossos braços?
Não mais que névoa e vento. Apolo, assim te afastas, e me deixas presa
à teia indecifrável destes sons selvagens? Aaa Oooo...
Em teu ombro dourado me apoiava, inventando poemas que ditavas
a meu secreto entendimento. Infeliz de mim! Agora
só posso tocar névoa e memória. Dissiparam-se Mundo e Palavra.
A Sibila chorou.
Nesse momento as coisas cessam, silenciosas,
atemorizadas. Os ventos param de soprar,
nas árvores as folhas não se movem.
Os rios adormecem e o gigantesco Mar
é liso e sem ondas. Paira sobre tudo um
SANTO SACRO SILÊNCIO
Perde-se na neblina a medida do Tempo,
tudo se abisma no silêncio, à espera
do alto Deus, meta dos séculos.
A Sibila abre os grandes olhos
e vê o Deus que nasce.
A Mãe, junto ao Menino, parece uma vinha
e enquanto a Lua surge, clara, ela adora
o Filho em seus braços. De ouro vivo é a Criança
e em resplendores toda a gruta se ilumina.
Luz nascida como o orvalho descendo do Céu à Terra
e em torno, suavíssimo aroma.
Anjos perpassam, alígeras borboletas
e cantam: Amém.
A Sibila sorri.
Um cântico novo brota em seus lábios, mas não é seu,
o infinito o modulou:
O aroma de teus perfumes é delicado
e teu nome, óleo que se derrama.
Serás novo júbilo e alegria...
Não repares em minha tez morena, que o sol queimou.
Irados, meus irmãos fizeram-me guardar as vinhas,
eu, esquecida da Vinha!
Ouço a voz do meu Amado batendo à porta
Lentos são meus pés e ao abrir a porta
o Amado já se foi. Corre minha alma
e o busca por toda a parte. Não respondes, Amor,
ao meu chamado?
Eu vos suplico, filhas de Jerusalém,
se o encontrardes
dizei-lhe que estou doente de amor.
O que tem ele - elas perguntam -
o que tem o teu Amado mais do que os outros
para que assim o busques, quase morta?
Meu Amado é róseo e brilhante,
meu Amado vermelho. Sua cabeça é de ouro puro,
seus cachos, negro-azulados.
Seus olhos são duas rolas
perto de um lento riacho.
Destila mirra
o lírio de seus lábios.
Sei que habita um jardim,
companheiros ouvem sua voz...
Oh, faze que eu também te escute!
Quem é essa que vem do deserto
como um cântaro apoiado a um peito amoroso?
Ele é um selo sobre seu coração,
sobre seu braço moreno,
pois o Amor é forte como a Morte,
seus centelhas são de fogo:
uma chama divina!
Dissipa-se na névoa um rosto efêmero,
mas a face do Amado permanece.»
Dora Ferreira da Silva, Poesia Reunida
segunda-feira, 10 de março de 2014
ACONTECIMENTO E RESISTÊNCIA por Sílvio Gallo
GALLO, Sílvio. 2007. Acontecimento e resistência: educação menor no cotidiano da escola. In: Ana M. Facciolli de Camargo e Márcio Mariguela (orgs.). Cotidiano escolar: emergência e invenção. Piracicaba: Jacintha Editores, pp.21-39.
Como pensar o cotidiano da escola? Pensar tal temática nos lança na ordem do acontecimento. Podemos tomar o cotidiano da escola como o conjunto das coisas e situações que acontecem na sala de aula e para além da sala, na instituição escolar como um todo, e quero experimentar aqui a idéia de que os acontecimentos cotidianos em tal espaço dão pedagógicos. Em outras palavras, na escola não se aprende apenas na formalidade da sala de aula, mas também na informalidade das múltiplas relações e acontecimentos que se dão no dia-a-dia da vida na instituição. (Gallo 2007:21)
A emergência do cotidiano da escola, o acontecimento-cotidiano, é tudo aquiloque escapa de nosso planejamento, seja como professores, como gestores do processo educacional, como funcionários da instituiçao escolar, seja como pais. E a questão decisiva é: de que modo reagimos aos acontecimentos cotidianos? A resposta é de fundamental importância, pois esses acontecimentos são potencialmente situações formativas. (Gallo 2007:24)
(…) uma criança, sentada no fundo da classe, está de saco cheio e começa a jogar chicletes ou bolotas na cabeça dos outros. Diante dessa situação, geralmente o que fazemos é colocar a criança que está perturbando para fora da sala de aula, ou tentar fazer com que ela se manifeste o menos possível, ou ainda, se estivermos em sistemas mais sofisticados,encaminhá-la para um psicólogo. É muito raro nos perguntarmos se esse fato de singularidade não estaria dizendo respeito ao conjunto da classe. Nesse caso, teríamos que questionar nossa posição na situação e desconfiar que talvez as outras crianças também estivessem de saco cheio, só que sem manifestá-lo do mesmo modo. Em outras palavras, um ponto de singularidade pode ser orientado no sentido de uma estratificação que o anule completamente, mas pode também entrar numa micropolítica que fará dele um processo de singularização. (Guattari e Rolnik apud Gallo 2007:23)
Proponho tratarmos por educação maior aquelaproduzidano campo da macropolítica e dagestão, desenvolvida nos gabinetes, no Ministério da Educação, nas secretarias de educação de estados e municípios, traçando metas, planos, cronogramasde realização. É também aquela presente nas políticas públicas para educação. A educação maior traduz-se num esforço macropolítico de pensar, organizar, implementar e gerir os processoseducacionais como um grande sistema, determinando suasregras, suas metas, suas ações. (Gallo 2007:28)
Por educação menor sugiro tomarmos aquela desenvolvida pelos professores na solidão de sua sala de aula, para além de planos, políticas e determinações legais. É também aquela que acontece fora da sala de aula, nas relações e nos acontecimentos do cotidiano da instituição escolar. A educação menor, enfim, traduz-se num esforço micropolítico de criação e de produção cotidiana, em que professores e estudantes realizam os atos educativos, mas também nas microrrelações estabelecideas na isntituição escolar como um todo. (Gallo 2007:28)
A educação maior, no campo da macropolítica, está necessariamente investida de relações de poder. A ela cabe gestar e gerir, controlar. Aquilo que Deleuze e Guattari chamaram, em Mil Platôs, de estriamento do espaço, isto é, a definição de regras, protocolos, formas de ação, que permitem controlar todo o processo. Não são outros o propósito e o efeito de ações como as dos Parâmetros e Diretrizes Curriculares, dos Planos Decenais de Educação, dos Projetos Político-Pedagógicos das escolas. Já no campo da micropolítica, a educação menor opera mais pelo alisamento do espaço, permitindo o livre fluxo da criação. É por isso que, embora não haja oposição entre educação maior e educação menor, não raro a educação menor constitui-se como espaço de resistência aos atos de educação maior. [...] A educação menor pode ser capturada pela educação maior e ser estratificada, estriada, engessada. Mas como vimos que o cotidiano opera na ordem do acontecimento, isto é, do inesperado e do inusitado, as fugas sempre acontecem e o estriamento nunca consegue ser total e absoluto. (Gallo 2007:28-9)
Na esfera do cotidiano da escola, daquilo que propus chamar de educação menor, vemos a proliferação das diferenças. Agimos de modo análogo aos mecanismos racistas, quando classificamos essas diferenças, separando-as em campos distintos e organizando-as, a fim de controlá-las, sob o argumento de que, com isso, estaríamos incluindo, estamos “respeitando” os diferentes e seus direitos civis. Ao seguirmos, no terreno micropolítico daeducaçaõ menor, esses princípios construídos no âmbito macropolítico da educação maior, legitimamos um processo de estriamento e estratificação que permite controlar e mesmo “apagar”, neutralizar as diferenças. (Gallo 2007:38)
Os atos de educação maior, mesmo quando articulados a uma política progressista e de intenções transformadoras, são empreendimentos de estratificação, de normalização e de controle, que estriam os espaços do cotidiano, visando promover, no nível micropolítico, as ações e consequências previstas nso plano macropolítico. (Gallo 2007:38)
Abrir-se para as relações do cotidiano da escola, mergulhar nesses acontecimentos, agindo nesse cotidiano como vetor de transformação é possibilidade de resistir à exclusão e investir na construção da cidadania. (Gallo 2007:38)
Para resistir, é importante abrir-se ao acontecimento.
Estar atento àquilo que ocorre no cotidiano da escola, a fim de
potencializá-lo criativamente, e não ser tragado, engolido pelo
acontecimento. Perder-se no acontecimento, não conseguindo produzir, é
tão ruim quanto estratificá-lo, fazê-lo perder a potência, dominando os
fluxos e reenquadrando as diferenças na norma. [...] Resistir e criar.
Essas são as possibilidades que nos abre o cotidiano da escola, quando
escolhemos agir no fluxo dos acontecimentos. (Gallo 2007:39)
MOBILIZAÇÃO NACIONAL PELA EDUCAÇÃO
A mobilização foi anunciada pelo
presidente da CNTE após, ao arrepio da Lei, o Ministério da Educação
orientar a atualização do piso em 8,32%, com a publicação, no dia 18/12
do ano passado, por meio da Portaria Interministerial nº 16 (DOU, pág.
24), da nova estimativa de custo aluno do Fundeb para 2013, a qual serve
de referência para a correção do piso salarial do magistério em 2014.
O critério utilizado pelo MEC para
atualizar o piso, em 2014, compara a previsão de custo aluno anunciada
em dezembro de 2012 (R$ 1.867,15) com a de dezembro de 2013 (R$
2.022,51), sendo que o percentual de crescimento entre os valores foi de
8,32%, passando o piso à quantia de R$ 1.697,37. Até então, a previsão
de atualização era de 19%.
Assim como no ano passado, a CNTE
questionou o percentual de correção do piso para 2014, uma vez que dados
já consolidados do Fundeb, até novembro de 2013, apontavamm crescimento
do valor mínimo de aproximadamente 15%. E isso levou a crer que o MEC
agiu na ilegalidade, a fim de contemplar reivindicações de governadores e
prefeitos que dizem não ter condições de honrar o reajuste definido na
Lei do Piso, mas que, em momento algum, provam a propalada incapacidade
financeira.
Se, em 2013, o calote no reajuste do
piso foi de cerca de 8%, este ano ele ficará em torno de 7%, totalizando
15%, fora as contradições interpretativas do acórdão do STF sobre o
julgamento da ADIn 4.167, que excluiu o ano de 2009 das atualizações e
fixou percentual abaixo do previsto em 2010, conforme denunciado à época
pela CNTE.
Diante da nova “maquiagem” que limitará o
crescimento do piso, inclusive à luz do que vislumbra a meta 17 do PNE,
a CNTE antecipou sua decisão de organizar grande mobilização nacional
da categoria no início doano letivo, orientando suas entidades filiadas a
ingressarem na justiça local contra os governadores e prefeitos que
mantêm a aplicação dos percentuais defasados para o piso do magistério,
como forma de contrapor os desmandos dos gestores públicos que têm feito
caixa com os recursos destinados à valorização dos profissionais das
escolas públicas.
Plano Nacional de Educação
O plenário do Senado Federal aprovou dia 17, a versão do PNE que seguirá para análise final na Câmara dos Deputados.
Em nota (clique aqui),
a CNTE expôs sua contrariedade ao relatório final do Senado, apontando
os pontos críticos que a Entidade lutará para que sejam revertidos na
tramitação da Câmara dos Deputados, que deverá ocorrer no início deste
ano.
Essa tramitação derradeira colocará
frente a frente os substitutivos aprovados pela Câmara e o Senado,
devendo prevalecer um dos dois textos. E a CNTE lutará pela manutenção
das metas de alfabetização até o fim do primeiro ciclo do ensino
fundamental, pela expansão das vagas públicas na educação profissional e
no ensino superior, pela destinação das verbas públicas (10% do PIB)
para a educação pública, assim como requererá a manutenção de artigos do
projeto de lei e de estratégias do substitutivo da Câmara, a exemplo da
que prevê a fixação de prazo para aprovação da Lei de Responsabilidade
Educacional – a fim de que o PNE não se torne uma nova carta de
intenções – e da que garante a complementação da União ao CAQ, além de
outros pontos.
PARADA NACIONAL PELA EDUCAÇÃO
A CNTE convoca mobilização nacional para
os dias 17, 18 e 19 de março. Trabalhadores em educação vão parar o
Brasil para exigir o cumprimento da lei do piso, carreira e jornada,
investimento dos royalties de petróleo na valorização da categoria,
votação imediata do Plano Nacional de Educação, destinação de 10% do PIB
para a educação pública e contra a proposta dos governadores e o INPC.
Assista ao vídeo:Inscrições para o II Seminário Internacional Diálogos com Paulo Freire continuam abertas
As inscrições para o II Seminário Internacional Diálogos com Paulo Freire terminam no dia 12 de abril. O evento terá como tema “Ensinar, aprender: leitura do mundo e leitura da palavra” e será realizado nos dias 23, 24 e 25 de abril no IFRN Natal Central.
Confira o folder do II Seminário Internacional Diálogos com Paulo Freire AQUI.
O seminário pretende refletir sobre as organizações nascidas das relações entre os docentes e discentes e os processos de ensino-aprendizagem como construções de novos saberes.
O investimento é de R$ 60 para filiados ao SINTE/RN e estudantes e de R$ 120 para o público em geral. Esse valor inclui almoço.
Faça sua inscrição AQUI.
Confira as normas para submissão de trabalhos científicos AQUI.
PROGRAMAÇÃO:
23 de abril (quarta-feira)
14h00Credenciamento
17h00 Solenidade Abertura
18h00 Mesa de Diálogos I - Cotidianidade educativa: o que ousamos ensinar e aprender hoje?
Profª. Dra. Elza Maria Fonseca Falkembach - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Ijuí (RS)/ Representante do Consejo de Educación Popular de America Latina y El Caribe (CEAAL)
Prof. Alexandre Botelho Merrem – Educador Popular – Recife(PE)
Prof. Doutorando Cícero Gomes Correia – MEB/UFRN – Natal (RN)
Debatedora: Profª. Dra. Cláudia Cristina dos Santos Andrade – CAp
UERJ e UESA – Rio de Janeiro (RJ)
24 de abril (quinta-feira)
07h30 às 10h30 Minicursos (1ª parte)
9h às 19h Salão de materiais pedagógicos do PIBID UERN
10h30 às 11h00 Atividade cultural
11h00 às 13h00 Mesa de Diálogos II - Experiência, experiência escolar: relações dialéticas entre mundos?
Profª. Dra. Virgínia Zavala – Pontificia Universidad Católica del Perú – Lima/Perú
Profª. Dra. Elisabete Carlos do Vale – UEPB – Campina Grande (PB)
Debatedora: Profª. Dra. Inez Helena Muniz Garcia – UFF – Niterói (RJ)
13h00 às 14h30 Almoço
14h30 às 16h30 Círculos de cultura
16h30 às 17h00 Sessão de pôsteres
17h00 às 19h00 Mesa de Diálogos III - Ler o mundo, ler a palavra, ler o contexto –
Profª. Dra. Luiza Cortesão – Universidade do Porto – Portugal e Instituto Paulo Freire de Portugal
Prof. Alder Júlio Ferreira Calado – FAFICA – Caruaru (PE)
Debatedora: Profª. Dra. Luciana Maria Lima Souto de Vasconcelos Torres – Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) - Rio de Janeiro (RJ)
19h00 às 19h30 Atividade cultural
25 de abril (sexta-feira)
07h30 às 10h30 Minicursos (2ª parte)
10h30 às 11h00 Atividade cultural
11h00 às 13h00 Mesa de Diálogos IV - Como fazer emergir a teoria molhada da prática da vida? (Trabalhadora e trabalhador rural)
Profª. Dra. Simone Cabral dos Santos Marinho – UERN Pau dos Ferros (RN)
Profª. Mª Rosineide Pereira – MST/RN
Profª. Dra. Mª da Conceição Dantas – Marcha Mundial das Mulheres/RN
José Xavier da Câmara Neto – FETARN
Debatedora: Profa. Esp. Mª do Socorro Oliveira – DFDA/Natal
13h00 às 14h30 Almoço
14h30 às 16h30 Círculos de cultura
16h30 às 17h00 Sessão de pôstere
17h00 às 19h00 Mesa de Diálogos V - Responsabilidade ética, política e profissional dos professores
Prof. Dr. Márcio Adriano de Azevedo – IFRN - Canguaretama (RN)
Prof. Roberto Franklin de Leão – CNTE/DF
Debatedora: Profª Maria Inês de Almeida Morais – SINTE/RN
19h00 às 19h30 Atividade cultural/Encerramento
http://www.sintern.org.br/noticias/visualizar/2736#
CAI O NÚMERO DE MATRÍCULAS NO ENSINO MÉDIO
O Censo da Educação Básica, divulgado nesta terça-feira pelo Ministério da Educação (MEC), mostrou que o País ainda não conseguiu avançar na barreira em que se transformou o ensino médio.
Enquanto a queda constante no número de alunos do fundamental é causada
por bons motivos - maior aprovação e um fluxo mais regular -, esses
mesmos estudantes que terminam o 9.º ano não chegam ao ensino médio e o
número de matrículas nessa etapa caiu.
No ano passado, 8,312 milhões de alunos frequentaram o ensino médio no País. É o menor número desde 2007 e quase 1% menor do que o registrado em 2012, quando 8,376 milhões de alunos estavam matriculados. Cerca de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos deveriam estar no ensino médio, mas estão fora da escola - o que demonstra a necessidade de expansão das matrículas nessa etapa do ensino.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Francisco Soares, afirmou que o ensino médio é o gargalo da educação. "O ensino médio é um problema histórico, mas que está mudando. As taxas de aprovação, principalmente no primeiro ano, estão em torno de 70%."
Nos níveis iniciais de educação, o País pode comemorar. Ao mesmo tempo que aumenta o número de crianças em creches e na pré-escola, caiu a reprovação no ensino fundamental. Em seis anos, são menos 3 milhões de alunos no fundamental, com uma evasão de apenas 2,7% em 2012 - a metade da registrada em 2007.
"É considerada uma queda boa porque temos, de um lado, um movimento demográfico (menor número de nascimentos), melhor desempenho do aluno e uma menor retenção no sistema", disse o ministro da Educação, Henrique Paim.
O movimento desses alunos, no entanto, deveria ter levado a um crescimento de matrículas no ensino médio, o que não aconteceu. Os dados de evasão e repetência de 2013 só ficarão prontos no meio deste ano.
Integral. Uma das boas notícias do censo é o crescimento do número de alunos do ensino fundamental matriculados em escolas de tempo integral - com mínimo de sete horas. Desde 2010, o aumento foi de 139%, chegando a 3,1 milhões de alunos. O número ainda representa apenas 10,9% dos estudantes do ensino fundamental.
Paim garante que a meta do Plano Nacional de Educação (PNE), de atender 25% dos alunos na modalidade, é factível.
Apesar do avanço, os índices de cada Estado são diferentes. Em Alagoas, apenas 0,36% das matrículas do ensino fundamental é de tempo integral - contra 26% de Tocantins. "O tempo integral é fundamental na nossa priorização dos recursos", disse a secretária estadual de Educação de Tocantins, Adriana Aguiar.
No Estado de São Paulo, o ensino integral atende 115 mil alunos. Na Escola Estadual Alexandre Von Humboldt, zona oeste da capital, o ensino articula o currículo tradicional, disciplinas eletivas e grupos de estudos temáticos. "É cansativo, mas é prazeroso. Sinto que estamos aprendendo algo útil", diz a aluna Mylena Souza, de 16 anos.
Contando as redes particular e pública, São Paulo tem o maior número de alunos em tempo integral. No entanto, como concentra o maior número de alunos, os 339 mil estudantes representam 6,02%, a segunda pior marca do País, abaixo da média nacional. / COLABOROU PAULO SALDAÑA
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,cai-o-numero-de-matriculas-no-ensino-medio,1134594,0.htm
No ano passado, 8,312 milhões de alunos frequentaram o ensino médio no País. É o menor número desde 2007 e quase 1% menor do que o registrado em 2012, quando 8,376 milhões de alunos estavam matriculados. Cerca de 1,5 milhão de jovens de 15 a 17 anos deveriam estar no ensino médio, mas estão fora da escola - o que demonstra a necessidade de expansão das matrículas nessa etapa do ensino.
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Francisco Soares, afirmou que o ensino médio é o gargalo da educação. "O ensino médio é um problema histórico, mas que está mudando. As taxas de aprovação, principalmente no primeiro ano, estão em torno de 70%."
Nos níveis iniciais de educação, o País pode comemorar. Ao mesmo tempo que aumenta o número de crianças em creches e na pré-escola, caiu a reprovação no ensino fundamental. Em seis anos, são menos 3 milhões de alunos no fundamental, com uma evasão de apenas 2,7% em 2012 - a metade da registrada em 2007.
"É considerada uma queda boa porque temos, de um lado, um movimento demográfico (menor número de nascimentos), melhor desempenho do aluno e uma menor retenção no sistema", disse o ministro da Educação, Henrique Paim.
O movimento desses alunos, no entanto, deveria ter levado a um crescimento de matrículas no ensino médio, o que não aconteceu. Os dados de evasão e repetência de 2013 só ficarão prontos no meio deste ano.
Integral. Uma das boas notícias do censo é o crescimento do número de alunos do ensino fundamental matriculados em escolas de tempo integral - com mínimo de sete horas. Desde 2010, o aumento foi de 139%, chegando a 3,1 milhões de alunos. O número ainda representa apenas 10,9% dos estudantes do ensino fundamental.
Paim garante que a meta do Plano Nacional de Educação (PNE), de atender 25% dos alunos na modalidade, é factível.
Apesar do avanço, os índices de cada Estado são diferentes. Em Alagoas, apenas 0,36% das matrículas do ensino fundamental é de tempo integral - contra 26% de Tocantins. "O tempo integral é fundamental na nossa priorização dos recursos", disse a secretária estadual de Educação de Tocantins, Adriana Aguiar.
No Estado de São Paulo, o ensino integral atende 115 mil alunos. Na Escola Estadual Alexandre Von Humboldt, zona oeste da capital, o ensino articula o currículo tradicional, disciplinas eletivas e grupos de estudos temáticos. "É cansativo, mas é prazeroso. Sinto que estamos aprendendo algo útil", diz a aluna Mylena Souza, de 16 anos.
Contando as redes particular e pública, São Paulo tem o maior número de alunos em tempo integral. No entanto, como concentra o maior número de alunos, os 339 mil estudantes representam 6,02%, a segunda pior marca do País, abaixo da média nacional. / COLABOROU PAULO SALDAÑA
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,cai-o-numero-de-matriculas-no-ensino-medio,1134594,0.htm
POR QUE FALAR É VIVER?
Nei Alberto Pies
“A quem mais amamos, menos sabemos falar”
(Provérbio inglês)
Todo tipo e forma de discriminação, além de ser um problema pessoal de quem os sofre, é também um problema social. A gagueira, como outros tantos limites humanos, deixa marcas e imprime jeitos de resistir para sobreviver socialmente. Como eu, pelo menos 1.700.000 pessoas em todo o nosso país apresenta algum grau de gagueira na sua comunicação, conforme dados do Instituto Brasileiro de Fluência. A gagueira ganhou também um dia internacional: dia 22 de outubro.
A fala é o meio mais eficaz e mais utilizado para a nossa comunicação e interação social, porém não a única. Esta é a maior descoberta para alcançarmos reconhecimento social, através da comunicação. Se não falamos fluentemente ou temos algum grau de timidez, arranjamos jeitos de ser reconhecidos e valorizados socialmente por alguma outra habilidade ou virtude. Se não somos “experts” na fala, podemos ser bons na escrita, no canto, na representação, no estudo, na convivência ou nas relações. A qualidade da nossa comunicação depende da interação de todos, inclusive do apoio e compreensão que temos de dar àqueles que sofrem para se comunicar.
O ser humano é especialista na arte de compensar. Sem compensar não sobreviveria, porque se não é possível ser bom em tudo, é necessário ser bom e útil em alguma coisa. Por isso a gente se faz “agarrando-se” ao que tem de bom, àquilo que tem facilidade e àquilo que nos renda reconhecimento dos outros. A gente inventa e re-inventa jeitos e trejeitos para ser querido, amado e promovido pelos outros. O reconhecimento social é uma das maiores necessidades humanas, pois
ninguém sobrevive se não comprovar para si mesmo o quanto é útil, importante, querido e estimado pelos outros.
O resgate da auto-estima e a auto-aceitação são preponderantes para a cura ou convivência com a gagueira. A gagueira é influenciada por fatores neurobiológicos ou emocionais. Conhecer-se, estudar o seu problema, procurar auxílio e terapias, aumenta as possibilidades de conviver socialmente, sem maiores traumas. É fundamental, ainda, assumir publicamente os limites da fala e da comunicação sempre que se puder. Assumir os limites da fala propicia discernimento e tranqüilidade interior para lidar com os desafios de se comunicar melhor. Quem fala se liberta!
Falar é a forma mais concreta de nos apresentar ao mundo. Por isso mesmo, falar pressupõe primeiro aceitar-se como se é para depois buscar o reconhecimento junto aos outros. A felicidade de “seres humanos falantes” alicerça-se tanto nos fracassos e limites como nos êxitos e nas conquistas, pessoais e coletivos. Uma boa convivência social pressupõe a aceitação de todos os limites humanos e a superação de todas as formas de discriminação.
sábado, 8 de março de 2014
quarta-feira, 5 de março de 2014
APRENDE, HOMEM...
Aprende, homem, no refúgio!
Aprende, homem, na prisão!
Mulher na cozinha,
aprende!
Aprende, sexagenário!
Tens de assumir o comando!
Procura a escola, tu que
não tens casa!
Cobre-te de saber, tu que
tens frio!
Tu que tens fome, agarra o
livro, é uma arma!
Tens de assumir o comando/
Bi-rtou
Bbh:mt (1898-1956)
A filosofia da diferença a partir do EU SOU TREZENTOS de Mário de Andrade
Mário de Andrade
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinqüenta,As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as melhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinqüenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
Fonte: www.geocities.com
Levinas: ponto de subversão
“Mas eu penso que a relação do
estrangeiro com o estrangeiro, tornando-se amor e abnegação, atesta mais a
ordem de Deus. Sempre admirei, na Bíblia, a fórmula: ‘Amarás o estrangeiro’.
Essa relação pode se prolongar nas relações fraternais, mas é certamente na
relação com outro homem, em meus deveres, em minhas obrigações, em que lhe diz
respeito, que há, para mim, a palavra de Deus. É nesse ponto que a subversão
considerável da ordem natural se produz: alguém, que não me diz respeito, me
diz respeito, é bem isso o paradoxo do amor do estrangeiro. Inicialmente, ser,
é persistir em seu ser. É nesses termos que Spinoza entende a existência. Ser é
o esforço de ser, o fato de perseverar em seu ser. E eis de repente uma ruptura
desse esforço. Em minha responsabilidade no tocante a outrem, que logicamente
nada é, que é outro, que é separado, que é estrangeiro. Eu tenho essa
responsabilidade a partir do momento em que abordo o outro homem. Nesse
sentido, falo aqui da palavra de Deus que converte a perseverança em meu ser em
solicitude para com outrem”
POIRIÉ, François. Emmanuel
Lévinas: ensaio e entrevistas. São Paulo: Perspectiva, 2007, p. 99-100.