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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Incapaz de viver o que sabe ser certo


(imagem: Medéia de Paul Cézanne)

             Eis aí a incapacidade que parece atormentar a todos; viver o que se sabe certo. Mas o que seria o certo pra você? Longe de mim, aqui, querer advogar o politicamente correto, no entanto cabe a todos uma tomada de consciência a partir do ponto gerador de atitudes, de ação, de vida. Que princípios seguimos para agir? Ou seguimos certos códigos de ética construídos por nós mesmos ou vivemos involuntariamente, alheios a qualquer tipo de obediência e dever.
 Segundo Kant, pensador do séc. XVIII, duas coisas lhe causavam bastante espanto, como bem confessou o filósofo: “o céu estrelado fora de mim e a lei moral dentro de mim”. Ele admitia uma verdade subjetiva que possibilitava o indivíduo construir seus próprios valores e conceitos para viver. Sendo assim, o clichê: “o que é certo pra mim não é certo pra você” ganha, à luz da filosofia kantiana, um status aceitável e discutível é claro. A partir disso, as sociedades com seus cidadãos tiveram a imensa liberdade para construir seus sistemas, leis e constituições conforme as diferentes tradições, crenças e valores.
Só que Kant e muitos de nós nos esquecemos de combinar tudo isso com a nossa condição humana. Os indivíduos não são programáticos nem pragmáticos, mas imprevisíveis e inconstantes, instáveis, humanos. Há uma espada da condição humana que transpassa a nossa alma, atravessando-nos totalmente.  A nossa humanidade não dá saltos, ela é o que é. Não somos nem bichos nem deuses, mas humanos. Aí está uma verdade que demoramos para aceitar, tanto é que é preciso muitas atrocidades acontecerem para que tomemos um choque de realidade.
O caso do padrasto e da mãe do garoto Joaquim Ponte Marques que abalou o Brasil com contornos de crueldade ao mostrar que a criança havia sido morta antes de ser jogada ao rio e de ser encontrada depois de seis dias de desaparecida. Uma psicóloga ouviu o padrasto e percebeu que ele tinha ciúmes da criança. As suspeitas de sua morte apontam o padrasto e a mãe que estão presos. Vontades e os desejos mais perversos nos incapacitam de viver conforme sabemos o que é certo. Essa é a tragédia humana. O que dizer do fato do auditor fiscal Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, no programa Fantástico da Globo, de domingo 24/11, haver confessado publicamente que, entre jantar, hotel e mulher, chegou a gastar R$ 8 mil, R$ 10 mil com dinheiro de corrupção.  Alexandre é um dos quatro auditores fiscais suspeitos de participar de um esquema de corrupção na prefeitura de São Paulo. É investigado por cobrar propina de construtoras para que elas pagassem menos ISS, o Imposto Sobre Serviço. A fraude pode chegar a R$ 500 milhões.
Vemos que os indivíduos são vítimas impotentes de seus desejos de prevaricação, de opressão do outro e de trazer danos sérios à administração pública. O impulso é o desejo ilimitado de “ter mais”: mais poder, mais riqueza, mais reconhecimento social. As contradições e males sociais provindos do ser humano entre o que é e o que deve ser são marcantes, de tal modo que estão profundamente enraizados na alma individual como dupla, dividida, dilacerada, fragmentada em seus múltiplos desejos.
Impossível não nos remetermos agora à literatura clássica, sobretudo ao célebre monólogo de Medéia (1078 – 80) em que emerge claramente uma nova compreensão de alma, de indivíduo, podendo ser chamada de “trágica”, ou seja, “dilacerada”, dividida entre desejos e vontades. Assim se expressou Eurípides em sua homônima tragédia: “um indivíduo incapaz de viver conforme o que sabe ser certo”.
Tal é a nossa alma. Em constante conflito entre o que se sabe e o que se faz. Tal é a condição humana, arrastando-nos para a morte, para o amor e para experiência trágica da vida, não menos trágica que as experiências de amor e morte. Portanto, fiquemos com o espírito de indignação de Medéia na obra de Eurípides: “Que não me caiba em sorte essa próspera vida de dor, nem essa felicidade, que dilacera o meu espírito!”. 

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em Filosofia/UERN, Esp. em Metafísica/UFRN e Esp. em Estudos Clássicos UnB/Archai/Unesco.

 

 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

20 de novembro - dia da consciência negra

“Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho:
Os homens se libertam em comunhão.”
(FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 1987, p. 29.)

Em sua obra mais célebre Pedagogia do Oprimido, escrita durante o exílio no Chile, em 1968, até o último livro publicado em vida, Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa (1996), o educador Paulo Freire (1921-1997) sempre tratou da questão da igualdade, da educação como ato libertador e transformador.
 
 

Ato histórico: Joaquim Barbosa decreta prisão de MENSALEIROS

José Genoino, José Dirceu, Delúbio Soares e Marcos Valérios deverão ser presos
Divulgação STF

Doze condenados no processo do mensalão tiveram seus pedidos de prisão decretados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde desta sexta-feira (15/11). O presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, já encaminhou a ordem à Polícia Federal e distribuídos aos estados.
Entre os condenados que tiveram o pedido de prisão decretados estão o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoino; o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares; o ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu; o operador do esquema do mensalão, Marcos Valério; sua secretária, Simone Vasconcelos; além  e do ex-advogado de Valério, Cristiano Paz e do ex-sócio Ramon Hollerbach.
Em sua página oficial na internet, o expresidente do PT, José Genoino, deputado licenceado que deve se entregar à Justiça, declara inocência e diz que cumpre a decisão com indignação, que foi condenado por estar à frente do partido na época e que não haveria provas contra ele. Genoino diz considera-se um preso político e foi condenado a 6 anos e 11 meses de prisão pela participação no esquema e deverá cumprir a pena em regime semiabreto.
Já o ex-ministro chefe da casa Civil, começará a cumprir a pena de 7 anos e 11 meses por crime de corrupção ativa, em regime semiaberto até que sejam analisado os embargos infringentes por formação de quadrilha, crime ao qual foi condenado a cumprir 2 anos e 11 meses em regime fechado.
A decisão sobre a execução das penas dos 12 condenados na Ação Penal 470, o processo do mensalão, foi tomada na quarta-feira (13/11) após os ministros rejeitarem os segundos embargos de declaração apresentados pelos réus condenados no processo.
Os ministros seguiram o voto divergente de Teori Zavascki. Ele entendeu que todos os réus podem ter as penas executadas, exceto nos crimes em que questionaram as condenações por meio dos embargos infringentes, recurso previsto para os réus que obtiveram pelo menos quatro votos pela absolvição, outra fase de recursos. O entendimento permite a prisão dos réus que tiveram os embargos rejeitados e dos condenados que, mesmo tendo direito aos infringentes, não questionaram as penas por meio deste recurso.



Jabuti - prêmio literário 2013

Um dos mais tradicionais prêmios literários brasileiros, o Jabuti entregou, na quarta-feira, em São Paulo, a estatueta aos três primeiros colocados de suas 27 categorias – a lista já havia sido revelada. A surpresa da noite foi o anúncio dos vencedores do Livro do Ano de Ficção, dado a Diálogos Impossíveis (Objetiva), do cronista do Estado Luis Fernando Verissimo, e do Livro do Ano de Não Ficção, que premiou As Duas Guerras de Vlado Herzog, de Audálio Dantas, ganhador, antes, em Reportagem. Os dois levaram R$ 35 mil, além dos R$ 3.500 que os ganhadores de todas as categorias recebem.
O gaúcho Verissimo não pôde ir à cerimônia devido a compromissos em Porto Alegre. “O prêmio foi uma surpresa”, disse ele ao Estado, por telefone. “O livro foi o segundo mais votado e só ganhou porque o primeiro foi desclassificado por um detalhe do regulamento. Não estou reclamando do prêmio, mas acho que Sérgio Sant’Anna foi injustiçado.”
Dantas estava lá e, aos 84 anos, fez um discurso emocionado em homenagem a seu personagem e em defesa do acesso à informação. “Esse trabalho que agora vejo premiado tem um sentido muito profundo para mim. Ao mesmo tempo em que sou o autor desse livro, sou também personagem, porque vi de perto, senti o medo e o horror daqueles dias de outubro de 1975, quando assassinaram Vladimir Herzog”, disse ao receber o prêmio. Audálio Dantas era presidente do sindicato dos jornalistas quando “a ditadura militar pôs em prática um plano de caça aos jornalistas acusados de atividades comunistas”. “Acompanhei caso a caso essa tragédia desde o começo, denunciando as prisões ilegais e as torturas praticada não só contra os jornalistas. Tive, naquele momento, os dias mais angustiantes da minha vida, mas acho que cumpri com o dever que me cabia naquele momento e acredito que essa história do Vlado está registrada na história do Brasil e nas lutas contra a opressão”, completou após a premiação.
A decisão de contar essa história, porém, não foi fácil, e levou mais de três décadas, tempo em que pesquisou o assunto. A escrita, que durou cerca de um ano e meio, também teve seus percalços. “Foi difícil escrever sobre tudo isso porque a emoção era muito grande. E a emoção, em alguns momentos, pode atrapalhar um trabalho que deve ser o retrato da verdade, da história. Essa era a minha preocupação, mas consegui”, contou.
Entre as outras dificuldades citadas pelo jornalista, estava o acesso aos documentos oficiais, e este seria, na opinião do autor, um empecilho para que outros textos sobre o período viessem à tona. O escritor também comentou os recentes debates em torno das biografias não autorizadas. “Negar ao povo brasileiro o direito de saber é algo que devemos combater com todas as nossas forças. Digo isso em relação às tentativas de se proibir biografias. Quando as pessoas são públicas, as biografias pertencem ao público. Devemos combater essas tentativas que neste momento são movidas por interesses muitas vezes simplesmente pecuniários e o interesse deve ser muito maior do que isso.”

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,para-verissimo-sergio-santanna-foi-injusticado,1097152,0.htm

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A voz da criança não se cale em nós!


"Que jamais a voz da criança nela se cale, que caia como um presente dos céus oferecendo às palavras ressecadas o brilho de seu riso, o sal de suas lágrimas, sua todo-poderosa selvageria."


                                                                 (L.-R. Des Florêts, trecho de Ostinato)