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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Que gire a roda da fortuna!


Circula no imaginário de cada um a noção de que fortuna é muito dinheiro, muitos bens, riqueza, prosperidade e coisa do gênero, até que é mesmo no vocabulário português, mas no italiano fortuna não tem nada a ver com isso, pois significa oportunidade, sorte ou destino, uma certa felicidade, digamos assim. Para alguns políticos, já começou o tempo da oportunidade, em que concorrerão a um lugar na câmara dos vereadores ou a um lugar exclusivo, cada vez mais vazio, na cadeira do executivo municipal. Há os que querem apenas tomar o lugar, mas há os que usarão o lugar para trazer outras oportunidades para o povo. Estes abraçam a carreira política como um serviço público de mão dupla. Ganham, mas fazem outros ganharem. Quando ganham, todos ganham. São os menos egoístas.
Vislumbra-se um tempo cheio de oportunidades. Subverter um pouco as coisas nesse tempo não é arte só dos políticos, mas também dos eleitores. Eleitores também precisam de oportunidades. Eis a hora da festa política, onde o povo saberá ou não fazer suas escolhas, saberá, acima de tudo, aproveitar cada tantinho de oportunidade.
Afinal de contas, a roda girando sinaliza ainda o caráter dinâmico da política, de modo que no regime democrático o poder é sempre rotativo, cheio de alternâncias. A roda da fortuna nos ajuda a entender o sentido da alternância do poder democrático. Essa é uma das façanhas da democracia.
Aproveitar as oportunidades não significa sair correndo loucamente atrás de uma destas vagas, mas respeitar obedientemente o momento certo de arriscar-se a isso, uma vez que o povo espera ver homens, cidadãos mergulhados na vida da sua cidade, sendo servidores do povo e de suas reais necessidades. Quanto a isso, não há dúvidas de que o serviço público se constitui um espaço único para o político - aquele que se identifica de fato com as leis, a ordem e a gestão da coisa pública - poder desenvolver sua aptidões na arte de governar e colocar à disposição do povo sua aplicação em coletividade e em cidadania.
Vale lembrar sempre que o político ou o candidato a político profissional deve ser o mais cidadão de todos os cidadãos. Certamente, caberá a ele ou a ela trabalhar mesmo num esforço natural de fazer o melhor para a gente da sua terra. Gente que suporta os mil sofrimentos com criatividade, sem nunca perder a esperança. Maquiavel, pensador italiano, não estava só do lado do Príncipe e de sua permanência no poder, mas concebeu em seus escritos filosóficos políticos um imenso desejo pela democracia: “(...) as ideias já democráticas aparecem veladamente também no cap. IX de O príncipe, quando Maquiavel discorre sobre a necessidade de o governante ter o apoio do povo, sempre melhor do que o apoio dos grandes, que podem ser traiçoeiros”(in ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando. Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2009. p. 299).
Voltando, pois, à fortuna, por que não nos remetermos aqui à mitologia? A Fortuna é uma deusa romana que representa a abundância e que também move a roda da sorte. Daí, fortuna vir identificada com ocasião, acaso, sorte que se liga com a ideia do político, em Maquiavel, não deixar escapar nunca a ocasião oportuna. Porém, de nada adianta ser oportuno sem virtù, virtude, para o político não deixar seu senso de oportunidade se transformar em oportunismo. Que o político saiba respeitar a oportunidade com virtude para não se transformar num tirano, ligado apenas em seus próprios interesses.
Que gire a roda da fortuna! Quem serão os felizardos? Quem serão os afortunados?

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia, Pós-graduando em Estudos Clássicos pela UnB e Archai Unesco.

domingo, 24 de junho de 2012

Severino de Lica, um avô inesquecível. Que legado!


Meu querido avô, com quem convivi e aprendi muito de suas virtudes. Seu exemplo é um verdadeiro legado para a família, bem como para a toda a cidade de Jardim de Piranhas. 

Neste dia 28 de dezembro de 2011, se estivesse vivo, Severino Gomes da Silva, conhecido por Severino de Lica, completaria 100 anos.

Chefe de numerosa e respeitada família, Severino contribuiu decisivamente para o progresso de Jardim de Piranhas. Aqui desempenhou várias funções: foi sacristão, professor, vendedor de sorvete, padeiro, comerciante, juiz de paz. Nunca me esqueci dos saborosos pães doces que vendia em sua padaria, instalada no prédio vizinho ao comércio do saudoso Josias Araújo.

Severino de Lica foi um verdadeiro pai, cidadão, homem honrado e de muitas virtudes, merecedor, pois, de todas as homenagens.

COMÉRCIO DE SEVERINO DE LICA - 1948

JOVENS ORIENTADOS POR SEVERINO DE LICA - 1939

SEVERINO E SUA BANCA DE SORVETE

ATO DE NOMEAÇÃO DE SEVERINO COMO JUIZ DE PAZ


Fonte: http://alcimar-araujo.blogspot.com.br

domingo, 17 de junho de 2012

Se nem Drummond quer ver, imagine nós...

Enquanto isso, aqui e em todo o país o dinheiro público continua sendo mal administrado. Ora, se nem Drummond quer ver, imagine nós...

Críticas de Leonardo Boff ao documento Rio +20

O teólogo Leonardo Boff discursa em plenária da Carta da Terra durante a Cúpula dos Povos, na Rio+20
  • O teólogo Leonardo Boff discursa em plenária da Carta da Terra durante a Cúpula dos Povos, na Rio+20
"É um documento materialista e miserável". Foi dessa forma que o teólogo e escritor Leonardo Boff se referiu ao documento geral da ONU que está sendo preparado na Rio+20, Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22 de junho, no RIo de Janeiro.

"O Futuro que preparam na Rio+20 vai nos levar ao abismo", disse Boff, um dos responsáveis pela Carta da Terra, declaração de princípios que busca inserir na sociedade princípios mais éticos na relação com o meio ambiente.
Segundo o teólogo, a busca por uma economia mais sustentável, um dos principais focos da Rio+20, não terá sucesso algum com as ideias e panoramas atuais.
"Só se fala de economia verde. Mas o que eles querem é apenas uma economia pintada de verde. Temos que ter uma ruptura com o sistema atual", afirmou.

Foto de Júlio César da UOL
Fonte: http://noticias.uol.com.br/meio-ambiente

Rio +20: Onde os homens estão com a cabeça? Em dinheiro?

O ex-representante da ONU (Organização das Nações Unidas) para mudanças climáticas, Yvo de Boer, disse hoje que o texto final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que ainda está sendo negociado, não mostra o “desejo de realmente provocar mudanças radicais”. Professor da Universidade de Maastrich, na Holanda, o especialista disse que o texto traz apenas reafirmações de crenças que vêm sendo repetidas há 20 anos.

“Quando li o texto na manhã de hoje, vi que infelizmente ainda falta o desejo de realmente provocar uma mudança fundamental e radical, que precisamos ver. Se quisermos lidar com esses assuntos não resolvidos de sustentabilidade, temos que ir além de afirmações. Não vamos resolver esses problemas globais apenas com reafirmações de crenças. Precisamos de uma mudança fundamental de direção”, disse.

De acordo com De Boer, nos próximos anos, com o aumento populacional, o mundo terá que lidar com o crescimento da demanda por energia, pelos alimentos e pela água. O desafio será maior por causa das mudanças climáticas, que poderão reduzir as terras disponíveis para a agricultura e as reservas de água.

Polêmicas

A última versão preliminar do documento final da Rio+20, a que a Agência Brasil teve acesso, mostra que os temas controvertidos, como definições de recursos e metas pontuais, foram excluídos. O texto é amplo e generalista, mas ressalta aspectos sociais, como as parcerias para a erradicação da pobreza, a melhoria na qualidade de vida nos assentamentos, transportes e educação, além do combate à discriminação por gênero.

O rascunho foi negociado até a noite de ontem, sendo que só as delegações dos 193 países, organizações não governamentais e alguns movimentos da sociedade civil tiveram acesso ao texto. Nele, há 50 páginas, indicando que pelo menos 30 das propostas iniciais foram retiradas. No começo da conferência, o documento apresentado tinha 80 páginas e, anteriormente, chegou a ter 200 páginas.

No texto, não há menção sobre a criação do fundo anual de US$ 30 bilhões, a partir de 2013, e que alcançaria US$ 100 bilhões em 2018. A proposta defendida pelo Brasil e por países de economias em desenvolvimento foi rejeitada pelas nações mais ricas.

Em substituição à proposta de criação do fundo, há o compromisso de ser criado um fórum para apreciar o assunto a partir de nomeações da Assembleia Geral das Nações Unidas. O documento preliminar está dividido em seis capítulos e 287 itens. Os capítulos mais relevantes são os que tratam de financiamentos e meios de implementação (relacionados às metas e compromissos que devem ser cumpridos).

O texto destaca também a necessidade de os países fortalecerem as parcerias para a transferência de tecnologia limpa. Mas não há detalhamento, pois a questão divide os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Nas situações de impasse, o rascunho apela para os mais ricos contribuírem para o desenvolvimento sustentável, ação que vale também para as questões relativas à capacitação e ao comércio.

Rio +20: burocracia ou ação?


Que além da burocracia do evento Rio+20 (de 13 a 22 de junho de 2012, no Rio de Janeiro) sobre meio ambiente, biodiversidade e sustentabilidade dos recursos naturais do planeta, vejamos ações concretas da cúpula internacional que se encontrará aqui no Brasil para este grande despertamento de interesses que viabilizem tecnologia com preservação da natureza.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Grandes livros em documentários

grandes-livros

Série de documentários sobre as grandes obras literárias
Muitas e muitas vezes somos confrontados com uma realidade: quantos livros nós já lemos até que a pergunta nos seja feita? Creio que a maioria dos leitores tenha perdido a conta. Alguns são capazes de contar nos dedos das mãos a quantidade exata de livros lidos. Outros, porém, podem contar apenas usando um do (s) dedo (s) de uma das mãos.
Uma das formas pelas quais imagino surja o interesse pela leitura é assistir a algum documentário, série, novela ou qualquer tipo de mídia que faça surgir a curiosidade por querer conhecer aquele livro que foi objeto do programa. Por isso apresento a série de 30 documentários com aproximadamente 50′, chamada “Grandes Livros” – Great Books, no original –, produzida pelo Discovery Chanel, ainda na década de 1990.
Todos os vídeos apresentados estão no canal GrandesLivros, hospedado no Youtube, são dublados ou legendados, o que facilita bastante, não? Além disso, os comentários são feitos por especialistas na vida e na obra dos autores retratados como, por exemplo, Carlos Fuentes, o escritor mexicano recentemente falecido que foi um grande especialista sobre Dom Quixote e a vida de Miguel de Cervantes, o que pode oferecer uma visão não apenas básica mas interessante e estimulante para quem (espero que muitos) queira entrar ou conhecer melhor a vida dos autores e os motivos – personagens e história – de cada um dos livros abaixo:

Clique sobre o nome do livro para ver o documentário

1984 – George Orwell  Grandes Esperanças – Charles Dickens
Aventuras de Huckleberry Finn, As – Mark Twain Interpretação dos Sonhos, A – Sigmund Freud
Alice no País das Maravilhas – Lewis Carrol Letra Escarlate, A – Nathaniel Hawthorne
Ardil 22 – Joseph Heller Madame Bovary – Gustave Flaubert
Autobiografia de Malcom X – Alex Haley Miseráveis, Os – Victor Hugo
Contos de Terror – Edgar Allan Poe Moby Dick – Herman Melville
Coração das Trevas, O – Joseph Conrad Morte de Artur, A – Sir Thomas Malory
Crime e Castigo – Fiodor Dostoievski Nus e os Mortos, Os – Norman Mailer
Dom Quixote de La Mancha – Miguel de Cervantes Odisseia – Homero
Drácula – Bram Stoker Orgulho e Preconceito – Jane Austen
Emblema Rubro da Coragem – Stephen Crane Origem das Espécies, A – Charles Darwin
Êxodo Príncipe, O – Nicolau Maquiavel
Filho Nativo – Richard Wright República, A – Platão
Gênesis Selva, A – Upton Sinclair
Grande Gatsby, O – Scott Fitzgerald Senhor das Moscas, O – William Golding

Viagens de Gulliver, As – Johnathan Swift

Walden, ou A Vida nos Bosques – Henry D. Thoreau


Tudo bem que a maioria dos estudantes de graduação tenham respondido que leram pouquíssimos livros numa recente pesquisa. Você pode encontrar uma excelente explicação no artigo “Por que se lê tão pouco no Brasil”, de Elmer Correa Barbosa, que foi postado no Blog do Galeno.

O que não faltam são meios de fazer a juventude gostar de ler.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Grécia: Uma maneira diferente de fazer política



           (Imagem das ruínas da antiga ágora, lugar de discussões políticas em Atenas)

Isso mesmo, foi exatamente na Grécia de Homero que surgiu uma maneira diferente e desconhecida de fazer política, onde o Rei deixava de ser onipotente ao ponto de seu poder ir sendo partilhado e disputado entre os cidadãos. A partir do séc VI antes da era comum, na Atenas de Sólon e Clístenes, - o primeiro limita os poderes da aristocracia e amplia as discussões populares, o segundo sedimenta os valores democráticos - começava paulatinamente a surgir um fenômeno que se tornaria um dos fundamentos da civilização ocidental: A democracia.
Na esteira da democracia, a Grécia inventa também a tragédia e a Filosofia. Portanto, democracia, tragédia e Filosofia vão ser as marcas profundas da inventividade e criatividade da Grécia para toda uma posteridade civilizatória, que se tornaria memorável na palavras do historiador Jean-Pierre Vernant, “o mundo de onde viemos”. E continua: “Claro, tudo mudou desde então, o espaço, o tempo, a autoconsciência, a memória, as formas de raciocínio... Mas é o homem grego que está na origem dessa espetacular evolução”(VERNANT, Jean-Pierre. Jornal Folha de São Paulo, 31/10/1999), afirma com vivacidade uma das vozes mais influentes em Antiguidade Clássica.
Vejam que mentalidade revolucionária. Novamente, afirmada nas palavras de Vernant: “Aquiles trata Agamênon como o último dos últimos, na frente de todo o mundo: 'Tu és um covarde, um ordinário, o que eu tenho a ver contigo?'. Seria impensável dirigir-se nesses termos ao rei dos reis assírio ou ao faraó egípcio. Você os imaginaria insultados em praça pública por tipos que os chamam de todos os nomes? Esse comportamento originará mais tarde o que se chamará 'isegoria', o direito igualitário à palavra. É na verdade uma revolução, uma atitude radicalmente diversa no trato com a realeza, com a 'monarchia', o poder de um só. Os 'aristoi' consideram que não existe nenhuma instância exterior que possa exercer sobre eles algum poder”(idem).
Gostei muito do que disse Vernant na entrevista da Folha de S. Paulo quando acentua alguns elementos exclusivos na democracia grega diferentemente da nossa e admite que somos herdeiros do paradigma democrático criado pelos gregos. Muito bem, seguirei nessa direção. A partir da explanação feita por ele, pude perceber, talvez apressadamente, não sei, algumas diferenças entre a democracia grega e as democracias modernas, tal como o exercício da cidadania e outros elementos muito presentes nas cidades gregas. “Vemos surgir então a idéia de que todos os que nasceram atenienses, os cidadãos, têm direitos iguais de participar na coisa política. Daí ser preciso inventar, o que faz Clístenes, meios institucionais para conferir aos habitantes da Ática o sentimento de que constituem uma comunidade, e que em turnos sucessivos todos os membros dessa comunidade podem em princípio ocupar 'o centro', a praça e as magistraturas que representam o 'cratos'. Dali em diante, esse poder soberano é qualificado de 'nomos', de regra, de lei. Isso não quer dizer que não haja desigualdades, que certas famílias não tenham um papel privilegiado; o mesmo movimento que une os cidadãos os desune, porque, se é no centro que tudo se regula, ao termo de uma votação, haverá necessariamente uma maioria e uma minoria, e a minoria se achará submetida a um 'cratos', o da maioria. Na democracia existe ao mesmo tempo 'demos', o conjunto da população, inclusive sua parte mais pobre, e 'cratos', poder arbitrário e soberano. A democracia, de uma certa maneira, é a utilização de um sistema por alguns, os mais numerosos e menos favorecidos, para obter vantagens daqueles que os gregos chamam os melhores, os mais ricos. Na prática, encontramos mesmo assim um equilíbrio: a reivindicação extrema, a da partilha das terras, não será jamais realizada em Atenas”(idem)
Em primeiro lugar, nem todos são cidadãos. Mulheres, crianças, estrangeiros e escravos são excluídos da cidadania, que existe apenas para homens livres adultos. Em segundo, é uma democracia direta ou participativa e não uma democracia representativa, como as modernas. A politeia, constituída de qualidades políticas, de princípios e obrigações, regras, que fazem do cidadão mais participativo e autônomo, tal como é vista na sociedade grega não é como a política dos dias atuais. Na política grega, sobretudo em Atenas, os cidadãos participam diretamente das discussões e da tomada de decisão pelo voto. Dois princípios fundamentais definem a cidadania: a isonomia, isto é, a igualdade de todos os cidadãos perante a lei; a isegoria, o direito de todo cidadão de exprimir em público(na Boulé ou na Ekklesía) sua opinião; e a isocracia, direitos iguais de ascender ao poder. Além disso, para diferenciar ainda mais a democracia grega da nossa, é importante ressaltar a tamanha influência que o fator econômico tem em nosso sistema democrático de direito ao ponto de admitirmos uma plutocracia, ao invés de uma democracia. Acrescente-se a isso o nosso processo de alheamento à atividade política, ao exercício da cidadania. Quantos de nós se interessam pelas obrigações da cidade? Quantos de nós são membros de partidos políticos? Quantos de nós são conscientes da gestão do dinheiro público? Quantos de nós procuram votar com seriedade? Quantos de nós fiscalizam aqueles que criam, aprovam e executam as leis? Na verdade, sinto falta de mais participação política e invejo aqueles que se envolvem pra valer na dinâmica da polis. Gostaria também que nossa sociedade punisse de verdade aqueles que tiranizam as nossas leis e os que roubam o dinheiro público. Infelizmente, os que causam dano à vida política estão à solta ou repetindo os mesmos danos. Um outro agravante é que profissionalizamos ou burocratizamos demais as questões políticas em nossos dias.

Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Especialista em Metafísica, Bacharel em Teologia e Licenciado em Filosofia

Que a EDUCAÇÃO volte a nos libertar!


"Que a jovem alma se volte retrospectivamente para sua vida e faça a seguinte pergunta: 'O que tu verdadeiramente amaste até agora, que coisa te atraíram, pelo que tu te sentiste dominado e ao mesmo tempo totalmente cumulado? Faz passar novamente sob teus olhos a série inteira destes objetos venerados, e talvez eles te revelem, por sua natureza e por sua sucessão, uma lei, a lei fundamental do teu verdadeiro eu. Compare estes objetos, observe como eles se completam, crescem, se superam, se transfiguram mutuamente, como formam uma escala graduada através da qual até agora te elevaste até o teu eu. Pois tua essência verdadeira não está oculta no fundo de ti, mas colocada infinitamente acima de ti, ou pelo menos daquilo que tomas comumente como sendo teu eu. Teus verdadeiros educadores, aqueles que te formarão, te revelarão o que são verdadeiramente o sentido original e a substância fundamental da tua essência, algo que resiste absolutamente a qualquer educação e a qualquer formação, qualquer coisa em todo caso de difícil acesso, como um feixe compacto e rígido: Teus educadores não podem ser outra coisa senão teus libertadores"

(In Nietzsche, Consideração intempestiva: Schopenhauer educador. Cf. MOSÉ, Viviane. O homem que sabe. 2ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2011, p. 183-184)

Meu inferno mais íntimo

 


Um jovem rabino, angustiado com o destino da sua alma, conversava com seu mestre, mais velho e mais sábio, em algum lugar do Leste Europeu entre os séculos 18 e 19. Pergunta o mais jovem: “O senhor não teme que quando morrer será indagado por Deus do porquê de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias? Eu sempre temo esse dia“.
O mestre teria respondido algo assim: “Quando eu morrer e estiver na presença de Deus, não temo que Ele me pergunte pela razão de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias, temo que Ele me pergunte pela razão de eu não ter conseguido ser eu mesmo“.
Trata-se de um dos milhares de contos hassídicos, contos esses que compõem a sabedoria do hassidismo, cultura mística judaica que nasce, “oficialmente”, com o Rabi Baal Shem Tov, que teria nascido por volta de 1700 na Polônia.
A palavra “hassidismo” é muito próxima do conceito de “Hesed”, piedade ou misericórdia, que descreve um dos traços do Altíssimo, Adonai (“Senhor”, termo usado para se referir a Deus no judaísmo), o Deus israelita (que, aliás, é o mesmo que “encarnou” em Jesus, para os cristãos). Hassídicos eram conhecidos como “bêbados de Deus”, enlouquecidos pela piedade divina (e pela vodca que bebiam em grandes quantidades para brindar a vida…) que escorre dos céus para aqueles que a veem.
São muitas as angústias de quem acredita haver um encontro com Deus após a morte. Mas ninguém precisa acreditar em Deus ou num encontro como esse para entender a força de uma narrativa como esta: o primeiro encontro, em nossa vida, que pode vir a ser terrível, é consigo mesmo. Claro que se Deus existe, isso assume dimensões abissais.
Para além do fato óbvio de que o conto fala do medo de não estarmos à altura da vontade de Deus, ele também fala do medo de não sermos seres morais e justos, como Moisés e Elias, exemplos de dois grandes “heróis” da Bíblia hebraica. Ser como Moisés e Elias significa termos um parâmetro moral exterior a nós mesmos que serviria como “régua”.
A resposta do sábio ancião ao jovem muda o eixo da indagação: Deus não está preocupado se você consegue seguir parâmetros morais exteriores, Deus está preocupado se você consegue ser você mesmo. Não se trata de pensar em bobagens do tipo “Deus quer que você seja feliz sendo você mesmo” como pensaria o “modo brega autoestima de ser”, essa praga contemporânea. Trata-se de dizer que ser você mesmo é muito mais difícil do que seguir padrões exteriores porque nosso “eu” ou nossa “alma” é nosso maior desafio.
Enfrentar-se a si mesmo, reconhecer suas mazelas, suas inseguranças e ainda assim assumir-se é atravessar um inferno de silêncio e solidão.
Ninguém pode fazer isso por você, é mais fácil copiar modelos heroicos, por isso o sábio diz que Deus não quer cópias de Moisés e Elias, mas pessoas que O enfrentem cara a cara sendo quem são. Podemos imaginar Deus perguntando a você se teve coragem de ser você mesmo nos piores momentos em que ser você mesmo seria aterrorizante. Aí está o cerne da “moral da história” neste conto.
Noutro conto, um justo que morre, chegando ao céu, ouve ruídos horrorosos vindo de uma sala fechada. Perguntando a Deus de onde vem aquele som ensurdecedor, Deus diz a ele que vá em frente e abra a porta do lugar de onde vem a gritaria. Pergunta o justo a Deus que lugar seria aquele. Deus responde: “O inferno”. Ao abrir a porta, o justo ouve o que aqueles infelizes gritavam: “Eu, eu, eu…”.
Ao contrário do que dizia o velho Sartre, o inferno não são os outros, mas sim nós mesmos. Numa época como a nossa, obcecada por essa bobagem chamada autoestima, ocupada em fazer todo mundo se achar lindo e maravilhoso, a tendência do inferno é ficar superlotado, cheio de mentirosos praticantes do “marketing do eu”.
Casas, escritórios, academias de ginásticas, igrejas, salas de aula, todos tomados pelo ruído ensurdecedor do inferno que habita cada um de nós. O escritor católico George Bernanos (século 20) dizia que o maior obstáculo à esperança é nossa própria alma. Quem ainda não sabe disso, não sabe de nada.

Luiz Felipe Pondé (jornal FSP – 04.06.2012) 

Fonte original deste artigo: AQUI