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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Autárkeia e phýsis em Epicuro de Samos

Do próprio conceito grego de autárkeia afirma-se o lugar do pensamento de Epicuro, na phýsis. A autárkeia é o princípio regente de si mesmo. É o comando do ser em profunda harmonia com a phýsis brotando a realidade do mundo.
O que importa para Epicuro é a vida junto à natureza, pois é a verdadeira realização do ser enquanto uma pequena parte integrada na grande totalidade. Não há partes separadas da totalidade, do mesmo modo como não há totalidade separada das partes. Para se entender a phýsis na sua totalidade, segundo Epicuro, é necessário ir até as partes, voltar ao particular, ao indivíduo. “O estado de ser da natureza leva-nos a refletir sobre o sentido de realização do nosso próprio ser, um microcosmos”( Silva, Markus F. da, Epicuro: sabedoria e jardim, p. 15).
A compreensão do todo da phýsis é simultaneamente a compreensão de si mesmo como princípio que se gera a partir de si mesmo, dando uma unidade fundamental ao mundo, às coisas, aos seres e conseqüentemente a si mesmo.
Sendo a phýsis a própria realidade no seu sentido mais profundo e a physiología o exercício de sua compreensão, a autárkeia é o comando, o regente do ser de acordo com a natureza.
Assim, o ser que não vive em sintonia com a natureza está desvinculado da projeção do saber de Epicuro. Este pensamento ou Filosofia é dinâmico porque está estreitamente ligado a phýsis, haja vista a realização de seu pensar sobre a phýsis a partir do princípio(átomo), dos corpos, mundos e todo.
A realização da phýsis é uma questão elementar porque vem explicitado o princípio de realidade(arché) pelo axioma básico do atomismo, conforme o qual o todo é composto de átomos e vazio. Os átomos são elementos constitutivos de todas as coisas, origem dos corpos compostos e a base do atomismo, cujo princípio é afirmado na Carta a Heródoto: “Primeiramente, nada nasce do nada(não-ser). Se não fosse assim, tudo nasceria de tudo e nada teria necessidade de seu próprio germe”( DL, X, 38, in Silva, idem, p. 27).
Não se tem pretensão alguma de explicitar o caráter complexo dos dados da phýsis em Epicuro, porém procura-se estabelecer um viés, uma abertura que se vincule à teleologia da “vida física”. Parece que uma vida tranqüila e feliz implica numa vida física autêntica, daí a volta constante de Epicuro à realidade original da phýsis, da natureza mesma do indivíduo:“Em suma Epicuro preconiza a volta ao ‘início’ para traçar o caminho que o conduza à sabedoria prática, ou ao cumprimento perfeito da natureza do indivíduo, pelo reconhecimento do saber originário aqui entendido como physiología. Mas para que haja este reconhecimento é preciso compreendermos a phýsis em sua realização e não apenas em sua compreensão”(SILVA, p. 27).
A relação intrínseca phýsis-autárkeia se projeta num crescente a um télos extremamente positivo, no sentido da realização completa de um modo de ser do indivíduo, autárkeia. Alcançando, assim, toda sua intensidade no éthos epicúreo. De fato, o centro da ética de Epicuro é a autárkeia como exercício do sábio que procura viver de acordo com a natureza. Este aspecto terá atenção especial na terceira parte deste estudo.
Segundo a etimologia da palavra, phýsis é o processo de crescimento ou gênese de alguma coisa, e, neste sentido, Epicuro somente a utiliza quando se refere aos corpos compostos e aos mundos. Outro sentido de phýsis é princípio(arché), porque é átomos e vazio; e num último sentido, phýsis é o modo de ser do todo ilimitado.
Há de se admitir também outras afirmações de Epicuro no que diz respeito a phýsis. É o problema da composição dos corpos e das almas, a explicação de que tudo o que existe é formado por átomos que se agregam em composições ou corpos, concebendo assim o axioma básico da physiología epicúrea e possibilitando a análise das estruturas compostas, desde as microestruturas corpóreas, até as macroestruturas dos mundos. Os átomos, portanto, constituem a realidade.
Todavia, como a phýsis é a fonte de todo aprendizado do sophós, do equilíbrio entre o homem e a natureza, faz-se necessário ainda compreender o sentido deste equilíbrio em direção ao bem-estar de seu corpo e, por conseguinte, de sua conduta no mundo.


Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Epicuro de Samos e sua Ética.

Busca-se explicitar a ética epicúrea a partir do sentido pleno do exercício da Filosofia como um saber para a vida, ou o equilíbrio próprio do sophós(sábio), que é autárkes, isto é, que tem o princípio da sua ação em si mesmo e, por isso, pode se considerar livre dos tormentos que afetam o comum dos mortais.
Vislumbra-se nesse particular, o modo de realização do télos(fim) do indivíduo, uma vez que o período helenístico da Filosofia antiga caracterizou-se sobretudo pelo deslocamento da problemática ética para o âmbito do indivíduo, onde a orientação para o agir no mundo tem o seu télos(fim) no bem-estar e na autárkeia do indivíduo, que já não deposita suas esperanças numa mudança substancial na ordem política e, por isso, volta-se para si e busca, através da Filosofia, o cuidado de si mesmo.
Epicuro enfoca o seu pensamento ético para o sophós(sábio), que é o modelo do homem feliz, por fazer da sua vida um exercício constante de realização da Filosofia, cujo sentido prático está em evitar os problemas advindos das relações estabelecidas no seio do corpo político, da sociedade de então.
Justifica-se, desse modo, o isolamento de Epicuro não como uma fuga da realidade, mas como uma característica do seu éthos que molda o homem sábio:
“Sua ética se caracteriza, sobretudo, pela autárkeia, isto é, por uma conduta na qual a ação fundada na compreensão da natureza supera a reação que tem por base o constante desgaste do indivíduo, que perdeu o domínio de si e vive a impossibilidade de criar o seu modo de vida segundo o que é natural e necessário. O afastamento do sophós em relação à insensatez das normas e valores cultivados em sociedade é, para Epicuro, o caminho para o exercício de um modo de vida autárquico”( SILVA, Markus Figueira da. Epicuro: sabedoria e jardim. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003, p. 18).
O homem sábio se constitui como aquele que não vive na polis porque o pressuposto para a política é eminentemente ético. O seu éthos equivale a sua phýsis, pois são uma realidade só.
O equilíbrio então se mostra como sentido para a vida a partir da compreensão da natureza(physiología) e do modo de ser phýsis.Essa é uma das questões centrais do pensar epicúreo devido o sábio alcançar a plenitude no agir, o equilíbrio, a medida, tendo em si mesmo o princípio dessas ações. A ele cabe escolher o que lhe aprouver e recusar o que destoa da medida equilibrada que expressa o seu bem-estar.
Assim, o sophós é autárkes porque age a partir de si mesmo. A autárkeia consiste na implicação da compreensão do sentido de liberdade(eleuthería) que a justifica e ao mesmo tempo a fundamenta.Autárkeia é uma qualidade de quem se basta a si mesmo. Daí, o viver em equilíbrio não depende senão do modo como o homem vivencia a sua situação real de existir independente de qualquer outro “poder” que transcenda a sua dynamis de ação, desde que esse “poder” possa ser permitido ou evitado.
A autárkeia é a expressão da vida tornada independente das necessidades que a negam e a fazem re-agir ou sofrer.
Contudo, eis o grande prazer da sabedoria quando se expressa os ideais da ataraxía, da aponía, da eustatheía e da philía; quando aquele que goza a serenidade de uma vida filosófica, obtém o máximo de prazer em todas as ações refletidas, ao mesmo tempo que se livra de atender às necessidades não naturais.
O propósito maior do comportamento do sábio se define como viver de acordo com a natureza e se expressa pela autárkeia, o modelo de ação que caracteriza o modo de vida do sábio.
Tal propósito passa por um exercício que é a efetivação da sua compreensão da phýsis mediante o dimensionamento da sua conduta no mundo-realidade. Este exercício é ainda a definição da Filosofia enquanto um saber para a vida: “techné tis perì tón bíon”, afirmado por Epicuro.
Jackislandy Meira de Medeiros Silva, Professor e Filósofo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Quem não merece seu voto.



Como Professor e filósofo, é de minha inteira responsabilidade, querer conscientizar ou sensibilizar as pessoas com quem convivo, bem como os leitores desta coluna, os amigos e eleitores de um modo geral, para a necessidade de se votar bem, uma vez que se aproxima o pleito eleitoral em todos os municípios deste país.
Entendo que há “n” razões para você, caro cidadão, confirmar a sua escolha no dia 05 de outubro de 2008. Todavia, elencarei aqui alguns conhecimentos de causa que farão você jogar luzes sobre o seu precioso voto.
De sorte, não merece o seu voto quem, de fato, carece de educação, princípios e bons costumes, capaz de envergonhar seus conterrâneos; Quem jamais prestou serviço a sua comunidade; Quem não é admirado até pelos próprios familiares; Quem não honra a política pela persuasão e pelo direito de todos, mas por herança genética; Quem se omite frente aos problemas levantados pelo povo; Quem não tem propostas concretas e objetivas para os cidadãos se sentirem felizes no lugar onde nasceram e continuam a viver; Quem não tem compromisso para com as propostas de governo; Quem não admite humildade diante da complexa responsabilidade de administrar a coisa pública; Quem não conhece o próprio lugar e o povo com o qual vai gerir; Quem oferece promessas gigantescas para o povo engolir a seco; Quem não está nem aí para com a verdade; Quem subestima a inteligência do eleitor com mentiras descabidas; Quem não respeita nossos ouvidos e nossa dignidade ao subir num palanque para discursar; Quem não se preocupa com a ÉTICA; Quem apenas brinca de ser político; Quem não vê na política uma oportunidade e, sim um fim, para tentar resolver boa parte dos problemas que afligem a qualidade de vida das pessoas; enfim...
Quem não merece seu voto? Pergunte-se, você mesmo, e tire suas próprias conclusões. Quem procura nos enganar e quem é cúmplice da verdade e do trabalho?
Notadamente, os compromissos com a verdade e com o trabalho devem acompanhar o seu voto, meu caro eleitor, eleitora que lêem minha coluna e acompanham as reflexões acerca da política.
Agora, passem a ler um texto que merece a nossa atenção, “O analfabeto político” do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht:
“O pior analfabeto
é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, não participa
dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e estufa o peito
dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil
que da sua ignorância política
nascem a prostituta, o menor abandonado,
o assaltante e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista, pilantra, corrupto
e lacaio das empresas nacionais e
multinacionais.”


Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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