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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Mais que um congresso, um encontro de fé.


A nossa pequenina cidade de Florânia percebeu, nesses quase três dias de Congresso jovem da Assembléia de Deus, a busca constante do homem pela autenticidade da fé. O pregador que veio ficar conosco para nos ajudar a mergulhar espiritualmente na Palavra de Deus, Pr. Geasi Souza, repetia incansavelmente: "É necessário vivermos a autenticidade de nossa fé". Parece-nos uma frase um tanto simplista, para não dizermos desgastada, no entanto, é uma necessidade que nos persegue desde o alvorecer da fé cristã, quando Constantino, Imperador de Roma, tornou-a oficializada pelo Império. A partir daí, a Igreja de Cristo nunca mais foi a mesma e sentimos saudades da ardente fé que levava tantos homens por amor ao Evangelho à morte, pois quanto mais o sangue dos mártires se derramava pela terra, mais e mais o número de cristãos florescia e se espalhava pelo mundo.
"Por onde Cristo passava, seus sinais o acompanhavam, sinais de milagres, de amor, de alegria, de bênçãos. Os tempos se passaram, esse Cristo mudou? Por que os sinais não continuam a acontecer? A resposta é uma só, Cristo não mudou, nós é que mudamos". Essas palavras do poeta e cantor Sérgio Lopes foram fenomenais para quem acredita que Jesus ainda está vivo em nosso meio, tocando as pessoas, curando-as, levantando-as, amando-as... Mas, para quem não crê nessas manifestações, as perguntas de Sérgio Lopes permanecem, assim como a preocupação de Geasi nos ajuda a descobrir o caminho, o encontro de fé com Deus.
Esse congresso não só promoveu a nossa fé nesse Deus que cura, como também aflorou nos corações de todos a preocupação com a pluralidade e unidade religiosas porque as pessoas, de diferentes confissões, puderam vislumbrar a oração de homens que, com suas vidas, adoravam a Deus em Espírito e em Verdade, enxergando neles características de compromisso com o Evangelho e com o testemunho diante da comunidade, sendo eles mesmos reflexos desse Evangelho: homens casados; construindo e mantendo suas famílias no Evangelho; vivendo com o suor de seus rostos; declarando para a sociedade inteira, a seriedade da fé em Cristo.
Vimos que para ser cristão se faz urgente afirmar a pluralidade das expressões religiosas, uma vez que são diferentes os homens de todos os lugares, de todos os tempos e de todas as culturas. Agora, afirmar a pluralidade não é compactuar com a relatividade da verdade do Evangelho, tampouco com o neoliberalismo no qual, infelizmente, estamos inseridos. Não somos coniventes com isso. Com um banquete servido à faz de conta, à fantasia da fé. Que diz que é, mas não é. Não podemos mais bricar com Deus! É chegado o tempo de conhecê-lo de verdade, não de mentirinha. Portanto, o seridoense já está percebendo que a unanimidade católica é questionável e está cheia de contrasensos do ponto de vista religioso. O número de evangélicos está crescendo bastante no Brasil, apesar de vivermos num país onde fora colonizado por católicos e, por isso, de cultura católica. Mesmo assim, esse crescimento demonstra maturidade religiosa do povo brasileiro, porque as pessoas estão cansadas de diletantismo barato, de formalismo religioso e de práticas por demais repetitivas, mais apegadas à tradição, à autoridade de uma "aristocracia" superada, do que à vida mesma presente nas Escrituras, oriunda sim da autoridade de Cristo, nosso Senhor.
Graças a Deus, a nossa fé não está mais sujeita a uma só expressão religiosa, unilateral. Faz tempo..., mas só agora tomamos consciência. Tomamos consciência de que a nossa expressão é plural, mas a fé é uma, una, que é fundamentada em Cristo! A expressão da fé é plural porque somos diferentes uns dos outros, mas iguais em preservar a unidade posta por Deus na vida de uma pessoa, Jesus Cristo.
A partir disso, a autenticidade da fé, isto é, o que penso de Deus, eu vivo. O que falo de Deus, eu vivo. É uma exigência para não vendermos a nossa seriedade com o Evangelho; para não trocarmos a nossa amizade com Deus; para não jogarmos fora a certeza da fé por um "prato de lentilhas", como nos disse o poeta, cantor e compositor evangélico, Sérgio Lopes. O qual nos proporcionou saborear a alegria do encontro verdadeiro com Cristo, através de suas canções que nos fazem lembrar de tudo em volta de Jesus de Nazaré, sua história, seu lugar, suas amizades, suas palavras...

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Os valores...


Muitos de nós passamos pela vida sem, ao menos, de quando em quando, avaliarmos nossas escolhas, nossas opções. Vivemos como que jogados na relatividade das culturas, dos costumes a que nos submetemos, respirando modelos escolhidos por outros e não por nós. Usamos as mesmas roupas, os mesmos relógios, as mesmas sandálias em virtude das “marcas” mais presentes no momento, “da moda”... Bebemos, por vezes, as mesmas bebidas, cujos rótulos são os mais visíveis no momento... As mesmas comidas com gostos e qualidades quase sempre os mesmos e assim por diante. Parece que estamos destinados as mesmices do dia-a-dia porque nos acomodamos em não querer fazer parte das decisões a que damos valor, pondo nestas decisões um pouco de nós, das nossas escolhas, dos nossos desejos pessoais, dos nossos gostos aprazíveis que enriquecem e alegram mais o nosso viver. Não necessitaríamos, talvez, sair da moda para aprendermos a valorar? Sejamos um “démodé”, um fora de moda!
O importante disso tudo é que empregamos vários sentidos para a palavra “valor”. Dentre eles, o mais elementar para os dias de hoje é o econômico. As coisas não nos deixam indiferentes, de modo que a todo momento precisamos estar valorando ou reconhecendo um valor ou um antivalor em tudo quanto experimentamos. A Filosofia que estuda o mundo dos valores chama-se Axiologia(axios-ou).
Objetivamente, observamos que não criamos os valores, mas algo já é nosso. O filósofo Jean Paul Sartre diz e defende a criação, a produção dos valores por nós. Segundo ele, os valores são objetos de nossa criação a fim de nos orientarmos em nossa existência militante. A cada instante, a cada momento estamos valorizando, valorando. O valor é tudo aquilo que não nos deixa indiferentes às coisas. Por isso, procuremos estabelecer uma hierarquia de valores a fim de gerir com mais sabedoria a vida que levamos, uma vez que a qualidade de vida está na maneira de discernir as diferenças presentes no mundo, pois isso é o que constitui o homem sábio.
Para o pensamento do homem comum, o valor é tudo aquilo que é capaz de romper, de quebrar a nossa indiferença. Aquilo que se destaca pela sua perfeição é um valor. Daí o sentido da palavra axiologia, o que me parece perfeito, o que me atrai, o belo.
Será que as coisas não têm mais valor do que o valor que nós lhes damos? Ou elas têm um valor objetivo? Não nos ocuparemos em responder essas questões aos leitores, até por que não teríamos tempo pra isso, no entanto façamos destas questões um motivar para nossa reflexão acerca dos valores.
Por fim, entendemos que o valor de tudo que nos aparece nos remonta a uma grande complexidade de significados, desde os físicos, materiais, emocionais até os espirituais... Portanto, valor é tudo aquilo que tem preço, estima, agradabilidade e significado.


Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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sábado, 8 de dezembro de 2007

A idéia de Deus em Anselmo de Cantuária


Anselmo de Cantuária (1033/1034 - 21 de Abril 1109), nascido Anselmo de Aosta (por ser natural de Aosta, hoje na Itália), e também conhecido como Santo Anselmo, foi um influente teólogo e filósofo medieval italiano de origem normanda.

Anselmo de Aosta parte da ideia de Deus de ser perfeitíssimo. Não existir somente na ideia, mas também na realidade. Parte-se do conceito de Deus para afirmá-lo.
Assim, o ponto de partida do argumento ou prova a priori de Anselmo é a ideia de Deus que nós temos no nosso intelecto, também o estulto do qual fala o Salmo (estulto é aquele que se diz ateu) tem em si a ideia de Deus, esta ideia é de um ser maior do que o qual nada se pode pensar. “Id quo magis cogitare nequit”, a ideia de ser perfeitíssimo. Esta característica de Deus como ser perfeitíssimo está no intelecto, porém na sua própria natureza está implícito o fato de que não existe só no intelecto porque se poderia pensar num outro ser que além de existir no intelecto existisse na realidade e então o primeiro não seria mais “Id quo magis...”, mas isso é contraditório, pois afirma e nega que Deus seja o ser maior do que o qual nada pode existir.
Em conclusão, partindo da idéia de Deus como ser perfeitíssimo está implícita nesta própria idéia o atributo e a característica da existência. Assim, Sto. Anselmo afirma que no próprio conceito de Deus como ser perfeitíssimo está incluída a prova de sua existência. Este argumento se chama a priori porque não parte das coisas criadas, mas do conceito de Deus que vem antes de todas as coisas criadas e que se encontra no sujeito, no eu do homem. Este argumento se chama também ontológico porque dá existência real de ser lógico. No próprio conceito de Deus se deve admitir a existência como elemento essencial desta perfeição.
O monge Gaunilon objetou o seu mestre no “Líber pro insipiente” que a ideia de Deus é conhecida pelos homens como e somente de forma genérica, não temos um conhecimento substancial dele. Em segundo lugar, Gaunilon afirma que eu poderia ter na minha mente a idéia das ilhas felizes cheias de delícias, mas não por isso esta idéia se concretizaria na realidade.
Deste modo, Gaunilon nega a legitimidade da passagem do plano lógico ao plano real. Padre Anselmo respondeu ao seu discípulo no “líber apologeticus” afirmando que o exemplo da ilha afortunada e perfeita não é adequado porque a passagem da idéia à existência real é possível somente em um caso, no caso da idéia de Deus como “Id quo magis cogitare nequit”, quer dizer somente no caso da idéia de ser perfeitíssimo.
A novidade de Anselmo para a Filosofia é o argumento a priori, ontológico ou a simultâneo. Sua Filosofia está como em Agostinho a favor da fé, a fórmula que ele usa é “Credo ut intelligam”, acredito para entender. Depois, outros filósofos acrescentaram a afirmação “intelligo ut credam”. Para Anselmo, a fé tem a primazia sobre a razão, o princípio da razão é a fé. A fé torna possível entender o sentido último das coisas, o objeto da fé por sua vez é abraçado em força do amor, o homem conhece porque ama, deseja conhecer sempre mais a realidade que ama. A fé desta forma não suprime a razão e a inteligência, mas é um princípio estimulante e vivificante. Na prova de Anselmo, o ponto de partida é a realidade de Deus que nós já possuímos por meio da fé e da tradição cristã, a razão se exerce como a ajuda a entender um dado já oferecido pela fé. Assim, o ponto de partida de Anselmo é a idéia de Deus apresentada em termos totalmente racionais (a idéia de ser perfeitíssimo), mas de fato herdada pela tradição cristã. “Fides quaerens intellectum”, a fé que procura a inteligência.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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