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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

DA BAJULAÇÃO

Vez por outra as pessoas são assaltadas pela balbúrdia da bajulação em ambientes intensamente sociais; mercado público, feira livre, supermercados, escolas, igrejas, sindicatos, Bancos, praças, festas, ruas e avenidas da “urbes”(cidade)... Umas até se incomodam com o estranhamento suportável das trocas de abraços e apertos-de-mão infindáveis que mais parecem exigência dos cargos públicos que ocupam ao invés de cumprimentos sinceros entre amigos. Outras são inteiramente incapazes de estranhar tal diferença, uma vez que se deixam envolver pela falsa necessidade de tanta lisonja, adulação e puxa-saquismo que saltam aos seus olhos, muitas vezes ingênuos e puros, mas interessados em compartilhar, não se sabe por que, da descarga de uma verborragia barata dos cordões políticos.
Mas, assim como a vida, a ingenuidade ou a pureza ou os interesses da adulação têm seus limites, têm seus dias contados! O limite da vida é a morte, o da bajulação é a sensatez, o amor próprio e o compromisso com a verdade. Acredita-se que só o pacto com a verdade é mais honrada e mais elevada que a amizade: “Amicus Platô, amicus Sócrates, sed amica veritas”(Aristóteles) – Amigo Platão, amigo Sócrates, mas mais amiga é a verdade. Ninguém é tão forte que possa resistir aos apelos da verdade para si e para os outros, sobretudo no mundo político, pois aqui e acolá, apesar da sua vida exposta, a verdade dá sinais de sobrevivência, haja vista o escândalo de corrupção do atual Presidente do Senado, Renan Calheiros. Alguém jamais conseguirá, embora forte política, social e economicamente, a todo instante, viver disfarçado de certinho, bonzinho e amável à custa de abraços, beijos e aplausos, encoberto pelas bajulações de algumas pessoas que beiram ao ridículo. Lembre-se, Jesus fora traído com um beijo!
“Todos te aplaudem, tudo bem, isto que é vida” afirma a Bíblia, no Livro dos Salmos. Ora, esta é a grande vantagem para aqueles que gozam do exercício do poder, servir-se do banquete do “status”, cujo alimento é regado à base de muita adulação para todos os gostos. Em virtude disso, corre-se o risco da autoridade pública ficar dividida entre o pleno cumprimento da justiça e a doce satisfação em atender aos caprichos de seus bajuladores, fiéis protetores que seguem à risca os fracassos e os desmandos de tal autoridade, ignorando a democracia e a sensibilidade à crítica, uma vez que todos são passíveis à crítica para o perfeito desenvolvimento de seus serviços.
Permitiu-se, desde muito tempo, inclusive na Grécia antiga, nos dias de Sócrates até hoje, na esfera política do mundo inteiro, abrir-se uma chaga chamada bajulação que, não tomada como arte da persuasão ou artifício para as negociações de caráter ético, passa a maquiar a personalidade dos representantes do povo, falsificando a autenticidade dos discursos, das idéias e das verdadeiras ações destes em relação aos seus subalternos e aos demais.
Platão, no seu diálogo Górgias, destacou que a Retórica é apenas uma parte da adulação, isto é, um simulacro de uma parte da política. Retórica, adulação e política estão intimamente relacionadas porque buscam a satisfação do bem-estar e do engano, descomprometidas com a verdade, ao passo que a Filosofia estava sempre interessada pelo exercício da sabedoria, da verdade e da justiça[1]. Nessa época, Platão contrapõe Filosofia à política, o que não vai acontecer com a Filosofia Moderna, ambas estão eminentemente ligadas, basta ler a teoria do Príncipe em Maquiavel.


Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo.

[1]Cf. PLATÃO, Górgias, 463a – 464a.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Visão de mundo II.

Na verdade, o homem se enfraquece diante de um mundo que perdeu a fé, desmotivou a unidade, encarcerou o social, secularizou o que quis, fortalecendo uma abertura quase completa para o individualismo, o sectarismo, o existencialismo e idealismos sem finalidade alguma. Ele se confunde consigo mesmo e não é capaz de levar adiante algo começado, pois as escolhas são muitas dentro de um mundo aproveitador, permeado de vantagens descrentes e decrescentes, como também de valores invertidos ou simplesmente sem valores.
Por isso, não há quase quem perceba mais um significante homem feliz, transbordando de otimismos e de esperanças fundamentais, cuja capacidade está em reconhecer e amar o Infinito, o Eterno, o Absoluto, o Imortal, o Deus Salvador, mas também Criador e Onipotente. Esta complementação do homem puramente racional com aquele puramente religioso desvaneceu-se ou diluiu-se nas artimanhas ativistas, inconscientes e automáticas do homem moderno e contemporâneo que não vê mais nenhuma identificação ou relação de sua vida com este Absoluto, com esta Força propulsora e espiritual convidativa, o próprio Deus.
A identificação do homem com seu próprio ser consciente e atuante, sobretudo espiritual, é a base sólida para a superação de muitos problemas encontrados no relacionamento político.
Nunca é tarde para aquele que está acordado em meio a tantas impiedades e desavenças entre um e outro ser, dotado de inteligência e discernimento. Não devemos querer resolver nossas dificuldades e suprir nossas necessidades imediatamente, porque a briga e a rivalidade são destruidoras de dignidade neste sentido, e quando você toma uma posição diferente, espera com paciência ou age com solicitude, nada é desesperador, mas pelo contrário, as coisas acontecem com a maior facilidade possível. Hoje, falta exatamente esse rigor coerente, lógico, transparente e evidente: “Quem não vive como pensa, termina por pensar como vive”(Paul Burger). Pois, se isso não é possível acontecer, sempre iremos reclamar, amargurar, recalcar, chorar e cair, ao invés de agradecer, fortificar, progredir, cantar e levantar.
É estremecedor e magnífico ao depararmo-nos com alguém que é capaz de externar um sorriso, uma palavra amiga, um abraço e um carinho merecedor sempre e em toda parte. Percebemos que existe alguém satisfeito por razões diversas próprias e, talvez, jamais explicada sua felicidade. Com certeza, ela foi conquistada aqui e será aperfeiçoada depois, só nos resta saber como isso se torna, também, realidade em nós. Pois, somente uma vida feliz e cheia de sentido interno poderá livrar-nos das amarras e dos condicionamentos mais desagradáveis e ameaçadores já existentes.

Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo.

Visão de mundo I.

Os fascínios pela natureza, a busca de realizações profissionais, os trabalhos, os meios de comunicação de massa, as instituições multiformes, a corrupção na política, a realidade virtual... Tudo isso condiciona o homem a mudar de opinião, de valores e de finalidade existencial.
A condição humana, a meu ver, é limitada e finita. E quando muitos não tomam consciência de sua finitude, acabam por cair num vazio irreversível ou num pessimismo doentio. Isso pode gerar catástrofes e crises existenciais jamais solucionadas pela força de vontade e pela capacidade do próprio ser humano. A não ser que ele tome impulsos inovadores rumo ao infinito, ao ilimitado, ao eterno, ao absoluto que é o próprio Deus.
Toda essa faceta existencial é envolvida e mobilizada por uma relação inquietante, cheia de futilidades, repleta de artimanhas e de jogo de cintura, a política. Esta nasce de uma necessidade cortante, séria e integrante da própria sociedade humana, bastante racionalista, por vezes conflitante.
As necessidades dos seres ditos racionais e conseqüentemente suas condições possíveis de realização os fazem perceber e detectar um aparato de exigências em toda parte que implicarão na realidade circunstancial de cada um. Daí acarretam-se, para o homem político, responsabilidades conscientes em suas decisões e em seus compromissos. Às vezes, o ato consciente e firme não é efetuado, surgindo de contradições graves que vão de encontro a si mesmo e ao bem estar da própria sociedade política, quando esta não está preparada para tal atitude.
Então, estas efetivas atitudes não conscientes, por vezes destruidoras, tanto subjetiva quanto objetivamente, proporcionam expressões, preconceitos ou atributos endereçados ao próprio homem como animal laborans , “animal” somente, “bicho”, “burro”, “alienado”, “manipulado”, “dominado”, “controlado” ... Rótulos diversos e desproporcionais à altura de quem quer que seja ou até à altura de um ser que, acima de tudo, vive, constrói, comunica, ama...
É fácil imaginar ou deixar que isso pudesse acontecer numa realidade cujo objetivo é fabricar, é produzir, é concorrer, é dividir, é dessacralizar, é afastar um do outro a possibilidade de viver digna ou humanamente. É a busca exacerbada do lucro, do ter e do poder. É a espécie humana milionária, empresariada e corrupta que desvincula a vida de uma grande multidão faminta, revoltada e assalariada. É realmente uma minoria que revolta e explora tantos sedentos por direitos como: justiça, paz, solidariedade e uma história mais participante e integral, total. Onde todos tenham seu espaço, sua contribuição criativa junto à sociedade política.
Muitos não agüentam mais esperar por melhores dias, por melhores empregos, melhores escolas, melhores construções artísticas, melhores criações. E o que acontece? Eles correm contra o tempo de suas existências, onde o que vale é o ativismo, a atividade esmagadora sobre si mesmo e sobre os outros. Não se interessam mais por um trabalho que se perpetue, nem por uma vida curiosa pelo estudo, pela contemplação. Não acreditam mais em si mesmos, em suas virtudes, a autoconfiança foi esquecida, lembrando apenas e tão somente do marketing e de ideologias baratas, descartáveis e insignificantes. Alguns se detêm na perspicácia de um olhar distante e esperto perante os fatos e percepções enganosas, porém muitos desviam este olhar cauteloso e arguto, que pode trazer a felicidade, para outros olhares obscuros, rápidos e imediatos que podem trazer o mal, a violência, a guerra e a morte desnecessárias.

Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo.